Carla Rebelo: Felicidade por hormese

Carla Rebelo, diretora mundial do negócio de recrutamento permanente da Adecco, apresenta a hormese como receita para aumentar a resiliência e a adaptabilidade das equipas nas empresas.

Carla Rebelo é diretora mundial do negócio de recrutamento da Adecco.

Carla Rebelo é diretora mundial do negócio de recrutamento permanente da Adecco.

 

Há uma química natural específica a prescrever para aumentar a resiliência e a adaptabilidade das nossas equipas nas nossas empresas. Chama-se hormese e tem um efeito duplo: desenvolve o potencial humano e faz prosperar negócios.

Segundo a ciência, a hormese é um fenómeno biológico que se refere à resposta positiva que alguns organismos exibem a doses baixas ou moderadas de stress ou agentes prejudiciais. Embora tradicionalmente se tenha acreditado que altas doses de substâncias tóxicas sejam sempre prejudiciais, a hormese sugere que doses baixas ou moderadas e crescentes, podem ter efeitos benéficos no organismo.

O conceito de hormese tem sido estudado em diversos contextos incluindo a toxicologia, medicina, ecologia e fisiologia. Tem-se observado que vários tipos de estímulos geradores de stress, como a radiação, certas substâncias químicas, exercício físico, jejum intermitente, restrição calórica, entre outros, podem desencadear respostas adaptativas nos organismos.

Na hormese, uma pequena quantidade de stress ou dano inicial desencadeia mecanismos de defesa e reparação no organismo, resultando numa melhoria na capacidade de resistência e adaptação. Isto pode levar a uma série de benefícios, como o fortalecimento do sistema imunológico e a melhoria da função metabólica.

Assim sendo, precisamos de líderes “horméticos” e não herméticos, que trabalhem no fortalecimento da organização, induzindo uma certa dose, calculada, de stress, em vez de nos fecharmos em busca da versão idílica de felicidade. Certas teorias mal-esclarecidas de felicidade organizacional, assentam o seu modelo na ausência de stress. Só que, nem todo o stress é mau. O dito stress, se não for crónico, é o fator que mobiliza e que faz a organização avançar.

Vários ensinamentos sábios milenares descrevem que o desenvolvimento ocorre no desconforto. O que forja a espada é a pressão e a temperatura, os diamantes são obtidos sob altíssimas pressões a partir do magma presente no interior da Terra, diferenciando-se assim do carvão.

O centro da questão é, pois, o facto de que a singela e única diferença entre remédio e veneno é a dose. A chave, é gerir com mestria, a dose certa. Ou seja, trata-se da famosa curva U invertida.

A hormese sugere que exposições moderadas ao stress podem fortalecer e melhorar a capacidade de resposta e adaptação dos organismos. Da mesma forma, a resiliência e a adaptabilidade organizacionais podem ser fortalecidas por meio de experiências desafiadoras e situações de stress moderado.

Na gestão, a resiliência refere-se à capacidade de uma organização ou equipa de se recuperar de adversidades, de superar obstáculos, adaptar-se a mudanças de forma positiva e até de melhorar as suas habilidades na antecipação de cenários. A adaptabilidade, por sua vez, envolve a capacidade de se ajustar, flexibilizar e aprender com novas situações e exigências num ambiente em constante mudança.

Ou, como Ruben Alves refere no seu livro Ostra feliz não faz pérolas, o ato criador, seja na ciência ou na arte, surge sempre de uma dor. Não é preciso que seja uma dor dorida…

 

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