Wellness room

Na empresa onde trabalho, todos os pisos têm um wellness room (traduzido para português penso que seria uma sala de bem-estar). É um espaço acolhedor, com uma mesinha e um sofá, um balcão com lavatório e um frigorífico. Na parede está um quadro com a palavra “Namaste” mas, a meu ver, podiam pendurar um ao lado que dissesse “pumping zone”, já que é igualmente um “lactation room”. Esta sala é utilizada quando as pessoas precisam de um momento de desconexão do trabalho e, no meu caso em particular, onde vou tirar e guardar leite. Nos EUA, todas as empresas com mais de 50 empregados são obrigadas a ter uma sala que permita às mães tirar leite. Em Boston, nas empresas por onde passei, esta é a realidade. Ao conversar com outras mães apercebi-me de que, em Portugal, estão em minoria as empresas que oferecem estes espaços às mães que estão a amamentar. Muitas têm que ir tirar leite na casa de banho, outras atravessam o corredor à socapa para não serem vistas a carregar uma mala com a bomba e, a maioria, desiste de tirar leite assim que começa a trabalhar. O que me deixa a pensar: a OMS recomenda a amamentação exclusiva durante os primeiros 6 meses de vida do bebé e complementar após a introdução de sólidos. Para as mães que querem trabalhar e continuar a dar do seu leite ao bebé, qual é a opção? Será justo serem os empregadores a ditar o declínio da produção/extração de leite das mães? Ou fará mais sentido começar a debater, de forma honesta, este e outros assuntos que envolvam carreira e maternidade?

Quando olho para o wellness room da minha empresa não vejo só uma sala que promove o bem estar e a inclusão. Vejo um lugar onde eu tenho a possibilidade de escolher. Escolher ser mãe e ter uma carreira, escolher tirar leite no trabalho e escolher continuar a alimentar o meu filho com leite materno. Às que escolhem não o fazer, também está tudo bem e certo! Não se trata de julgar uma escolha, mas de dar às mães a possibilidade de escolher!

 

Ana Cadete @ncscientist é cientista em Boston. Doutorada em Nanomedicina e Inovação Farmacêutica, foi viver para os EUA em 2016 para fazer o seu postdoc no MIT. É atualmente Project Leader na área de produção de vacinas de RNA mensageiro no mRNA Center of Excellence da Sanofi e a fundadora da The Non-Conformist Scientist (NCS), uma associação sem fins lucrativos que tem como objetivos partilhar conhecimento científico a nível global, impulsionar a carreira dos cientistas e motivar mais mulheres na ciência a serem líderes. 

Leia mais artigos de Ana Cadete.

Publicado a 18 Outubro 2024

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