Votar com a carteira

Todos os dias fazemos escolhas e optamos por marcas e produtos. A maioria das vezes, repetimos os nossos consumos, muitos deles vêm do tempo em que éramos pequenos e eram já escolhas dos nossos pais e avós.

No entanto, atualmente, estamos mais conscientes do que cada empresa faz e como produz. Somos mais sensíveis ao impacto no ambiente que esse bem traz, se é sustentável, se não usa animais nos testes pre-comercialização. Sabemos de cor marcas de vacinas, estamos atentos aos locais onde as organizações têm fábricas, se usam trabalho infantil ou condições indignas. Podemos não conhecer tudo, mas se nos apresentam uma notícia negativa, somos influenciados. Assim como nos deixamos levar por políticas empresariais que apresentam discursos que vão ao encontro daquilo em que acreditamos.

Escolhemos pelos nossos valores, uns mais na moda do que outros, uns mais repetidos e lembrados do que tantos.

As mulheres representam cerca de 80% das decisões de consumo diárias. Somos nós que escolhemos as marcas, as origens, os valores de cada produto que nos entra em casa, a roupa que os nossos filhos vestem, na comida e a bebida com que alimentamos a nossa família, a forma como limpamos a nossa casa.

Não somos as que possuem mais riqueza, estamos muito distantes da riqueza que o sexo masculino representa a nível geral no mundo, mas quem decide o que se compra somos nós. Somos educadas a não falar de dinheiro, a não pedir dinheiro, a não discutir salários, tendencialmente nem negociamos o que merecemos ganhar, mas a verdade é que onde há dinheiro, há poder. E a melhor forma de nos manterem mais pobres é repetirem-nos à exaustão que dinheiro e poder não são temas femininos.

E isso nota-se todos os dias, com a desigualdade de género gritante que se tem vindo a agudizar nos últimos tempos. E se o nosso voto no boletim vale tanto como o de um homem, a verdade é que todos os dias “votamos” também em corporações cujos donos financiam os partidos políticos que vão pôr os seus líderes em posições governamentais.

Nestas opções que fazemos todos os dias, não serão os direitos das Mulheres um valor tão ou mais valioso que todos os outros para nos levar a fazer escolhas de consumo?

Podemos começar por estar atentas, e atentos!, a declarações públicas de grandes gestores e proprietários de marcas, para ver quem são os principais financiadores dos partidos que não representam os nossos ideais. E escolher conscientemente, no que soubermos, o que comprar.

E isto porquê? Porque, repito, quem financia e apoia os partidos políticos de cada país são as pessoas mais ricas. E se tivermos em conta que os donos das empresas privadas deste mundo são maioritariamente homens, então, no limite são os seus valores que vão colocar no poder os líderes que nos irão representar.

Por isso eu pergunto: Porquê dar dinheiro a empresas cujos donos não vão defender os nossos direitos? Estamos à espera de quê para assumirmos o nosso papel e responsabilidade nesta luta que cada dia se torna mais difícil?

Podemos não ter a riqueza nas nossas mãos, mas temos a decisão do que fazer com parte dela. E esse poder, se quisermos e com toda a certeza, é nosso e tem um impacto profundo nos mercados. E, no limite, de quem queremos, mesmo!, a representar-nos nos lugares de decisão política.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos da autora aqui

Publicado a 07 Julho 2022

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