Tribos

Durante este tempo de pandemia, uma das coisas que mais me custou não fazer foi cantar no coro no qual faço parte. Não ir aos ensaios, escolher as peças, ensaiá-las e, quando tínhamos oportunidade, apresentá-las a público. Esta partilha, estes momentos em grupo, fizeram-me muita falta. Gosto muito das pessoas do coro, não sou amiga de todos, mas o facto de termos o gosto pela música, aquela música, por cantar, e o papel que cada um representa ser tão importante como o do outro, trouxeram-me um vazio à minha rotina.

Todos nós temos tribos. Podem ser grupos restritos de pessoas, como o coro onde eu canto, ou mais vastos como clubes desportivos, o curso que se estudou, o desporto que se pratica. Os momentos que se vivem em comunidade, em que cantamos todos ao mesmo tempo e tentamos não desafinar para não prejudicar o coro, tomamos um café rápido cada manhã com o grupo de mães da escola dos nossos filhos, em que vibramos com o golo da nossa equipa, ao limite de cantarmos em uníssono, num concerto com milhares de pessoas, a mesma canção, são pontos altos da nossa vida e que nos alimentam a sensação de valor.

Por alguma razão, as cores que se escolhem para os cursos superiores, os cânticos, as fotos, os festejos criados, a linguagem própria, tudo isso é alimento para uma necessidade básica – pertencer, ter um propósito, sentir-se acompanhado e apoiado, protegido.

Aliás, muito do que a pandemia nos tirou foi este sentido de pertença. Arrancaram-nos das nossas tribos. A possibilidade de partilhar os gostos comuns, parte da nossa identidade, o sentido de comunidade e de proteção. Obrigou-nos a isolarmo-nos, a afastarmo-nos de quem nos transmitia suporte social.

O ser humano precisa deste sentimento de pertença para se validar. Parte da sua personalidade vem da identificação com os grupos a que pertencemos. E a relação interpessoal positiva que se vive neles ajudam à nossa autoestima, ao nosso bem-estar e traz-nos momentos de alegria e felicidade quando um objetivo comum é atingido.

Talvez o regresso às nossas comunidades venha a demorar o seu tempo. E, por isso, iremos sentir-nos mais afastados e desprendidos, sozinhos durante mais tempo.

Cantar sozinha não é o mesmo que cantar no meu coro. Por muito que me digam para o fazer, não gosto tanto e não tem o mesmo efeito. Mas eu acredito que, apesar de ser difícil, conseguimos encontrar parte desse sentido de pertença dentro de nós. Aproveitar este tempo para nos conhecermos. Definir melhor os nossos valores, aquilo que realmente acreditamos e as pessoas em que nos queremos tornar. Os movimentos que defendemos, estudar sobre eles e perceber de que modo podemos ter um papel.

Preparar o regresso a casa. O regresso à tribo.

Publicado a 22 Julho 2021

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