Tecnologia no feminino

O meu filho mais velho está numa turma em que uma das disciplinas opcionais é Física. São quase três dezenas de alunos e todos rapazes. Não há uma única rapariga. Das 20 que o acompanhavam há dois anos, a maioria ficou-se pela Biologia e uma ou outra na Química. Sempre adorei Física, aliás, foi também uma das minhas opções no final do Secundário. E não consigo perceber porque é que nenhuma daquelas meninas escolheu estudar esta disciplina? Acredito que começa aqui, ou continua por aqui, a razão por que os cursos de Engenharia são maioritariamente masculinos. E, numa altura em que a tecnologia e as ciências informáticas são as que têm maior procura e são muito bem pagas, preocupa-me que as mulheres não entrem nesta corrida e, por aí, não possam aspirar, estatisticamente, a cargos de chefia e liderança nas grandes empresas tecnológicas. Aliás, apenas 5 % delas são geridas por mulheres.

De acordo com um estudo da PWC (Women in Tech – Time to close the gender gap), apenas 27 % das alunas consideram uma profissão na área da tecnologia e 78 % das pessoas no mundo não consegue nomear uma especialista feminina nesta área.

Desde cedo, as meninas encontram mais apetência para as cadeiras sociais, obtendo melhores resultados nelas. Como pensam que poderão ter mais sucesso nestas cadeiras, planeiam a mais longo prazo e gerem a sua carreira nesta área. Por outro lado, historicamente, as raparigas são influenciadas para profissões de cuidadoras e de argumentação e escrita, enquanto os rapazes são encaminhados para as ciências exatas. Vejam-se os brinquedos que se oferecem às crianças, ainda hoje.

Mas será só por isso? O que leva a que nenhuma das 150-200 alunas do 12.º ano de uma escola secundária opte pela disciplina de Física? Se nos basearmos apenas no estereótipo, é verdade que ele continua a existir e ajudaria mudar o discurso desde pequeninos para ultrapassar esta diferença gritante. Mostrar exemplos de mulheres de sucesso e felizes na área da tecnologia é também essencial, bem como usar a criatividade para tornar o estudo das disciplinas como a Física e a Matemática mais apelativas. E os professores têm um papel-chave nesta educação, motivando a igual apetência para as ciências exatas para qualquer um dos géneros.

Num mundo onde a inovação, o crescimento económico e o investimento estão cada vez mais ligados às tecnologias, é essencial que a física, a matemática ou as ciências informáticas sejam desmistificadas.

As mulheres estão a perder a corrida por não entrarem nela, logo à partida, e o ambiente profissional está a perder gente altamente competente e que faz falta. Faz falta e faria a diferença, como em qualquer outra das áreas do mundo.

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos da autora aqui

Publicado a 06 Outubro 2022

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