Quão sustentável é a sustentabilidade?

Tenho passado metade dos meus dias a discutir sustentabilidade — produtos mais sustentáveis, soluções mais naturais, alternativas orgânicas, reciclagem, projetos de inovação.

Na semana passada, numa feira internacional, era tudo verde, tudo carbono neutro, tudo amigo do ambiente. E eu duvido. Duvido muito do que me apresentam. Duvido se é mesmo carbono neutro, duvido se tem aplicabilidade, duvido se substitui, de facto, o que sempre se usou, duvido se a alternativa existe em quantidade e não compete com a cadeia alimentar humana e não só. Duvido se o remédio não vai matar mais depressa o paciente do que o tratamento anterior.

São poucas as empresas que apresentam relatórios que sustentam o que dizem, que investem em estudos com laboratórios independentes. Existem poucas pessoas nas organizações com conhecimentos práticos do tema e que saibam defender, em termos de negócio, que funciona.

De que serve apresentar uma solução para um resíduo se esta não se vai vender? De que serve substituir uma matéria-prima por um recurso natural se ele é raro? Como se pode prometer que se vai utilizar uma percentagem de material reciclado num composto se não existe produção mundial que sustente essas quantidades? Onde estão os engenheiros, os cientistas, os biólogos, os químicos nas companhias a explicar os processos, as implicações dos mesmos, os custos, as saídas?

Em meia dúzia de anos o tema tornou-se prato do dia, mas é assim tão fácil como o desenham? Que consequências sofreremos todos, com esta fuga para a frente da maioria das empresas, só para poderem dizer que têm produtos e soluções sustentáveis?

E se faço tantas perguntas é porque quanto mais leio, falo e estudo mais dúvidas tenho. Preocupa-me a falta de sustentabilidade das decisões, mais do que a sustentabilidade em si. Vai ser esse o caminho, no entanto. Não podemos fugir dele. Espero que o façamos por uma estrada construída com bons alicerces, por gente credenciada para o efeito e com objetivos práticos e mensuráveis.

O que sair do GOP26 poderá ajudar. Ou não. Parece-me que estão todos com ainda mais dúvidas do que eu.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos da autora aqui

Publicado a 04 Novembro 2021

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