Sabedoria

Desde que entramos na vida profissional até ao momento em que nos reformamos, é provável que mudemos várias vezes de funções e de empresas.

O que nos motiva para escolher determinado local para trabalhar também vai mudando com a idade e a experiência: salário, tempo, reconhecimento, autonomia, oportunidade de carreira, equipa para liderar, sentido e propósito e, mais recentemente, a consciência social, ambiental e de sustentabilidade que uma organização apresente – tudo são fatores que vão pesando, mais ou menos, à medida que evoluímos na nossa vida.

Mas há uma razão que eu considero fundamental na escolha de um caminho profissional: o que se vai aprender durante o mesmo.

Recentemente, entrei para um projeto exigente a nível técnico. Apesar de ser na minha área profissional de sempre, obrigou-me a ir mais fundo nos meus conhecimentos e tive de voltar a estudar. Pegar em livros, ler artigos, estar atenta a apresentações e apontar as dúvidas para colocar no fim. Buscar soluções para acrónimos, ler notícias das empresas no mercado onde me incluo, rever tendências e casos passados. Tem sido extremamente absorvente, muito desafiante, mas altamente compensador.

Pôr o meu cérebro a trabalhar a 300 % tem sido uma felicidade. Penso que já não me dedicava tecnicamente a um assunto há muitos anos e, ao recordar algumas bases da Química e da Física, ao poder discutir com pessoas que sabem muito mais do que eu, aprender com elas, ao sentir o seu reconhecimento quando até nem faço perguntas desadequadas, ao estar num ambiente de Engenharia, Química e Física quase fundamental, fez despertar em mim uma curiosidade que eu pensava já esquecida. Tem sido enriquecedor o que tenho absorvido e a verdade é que isso tem tido um efeito muito positivo em tudo na minha vida.

Ginasticar os neurónios nestes últimos meses tornou-me mais atenta em todas as áreas, mais desperta. Até em termos energéticos, sinto-me mais ativa, menos dispersa e capaz de me manter concentrada por mais tempo.

Durante muitos anos, dizia-se que o nosso cérebro envelhecia na sua generalidade após os 40 anos. Hoje, essa máxima prova-se que não é real. De acordo com o artigo How memory and thinking ability change with age, que li na Harvard Health Publishing, de facto, a velocidade de comunicação entre alguns neurónios diminui — o que pode afetar a capacidade de descodificar nova informação ou até retê-la —, mas as ligações mais distantes entre as zonas do nosso cérebro tornam-se mais fortes, o que melhora consideravelmente a nossa habilidade para relacionar assuntos, memórias, experiências, capacitando-nos de um talento superior para ver a big picture e entender as implicações globais de algumas decisões.

Será esta a origem da “sabedoria” que dizem vir com a idade? Então, é provável que o meu conhecimento estivesse cá desde jovem e, atualmente, estou apenas a treinar as conexões dentro dele, nas diversas áreas e fases da minha vida.

Na dúvida, talvez não seja mau estudar sempre – de miúdo a graúdo. Semear os saberes, as práticas, as educações para, chegando a uma idade mais avançada, conseguirmos agregar todos eles e tornarmo-nos mais sábios e competentes.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos da autora aqui

Publicado a 22 Junho 2022

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