Procrastinar

procrastinar

(pro·cras·ti·nar)

verbo transitivo

  1. Deixar para depois. = Adiar, Postegar, Protair ≠ Antecipar

 in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008-2024

 

Todos nós procrastinamos. Uns mais do que outros. Uns sofrerão com isso, outros compreendem que faz parte, muitos nem se apercebem.

Adiamos tarefas, atividades e compromissos por variadíssimas razões. Porque são aborrecidas, porque sentimos que não nos acrescentam, porque são trabalhosas, porque não estamos inspirados.

Desde o trabalho, até ao dia a dia, deixamos livros inacabados, roupa por arrumar, cantos por limpar, emails por responder, viramo-nos para o outro lado quando o despertador toca para o ginásio, ignoramos mensagens, deixamos o telefone tocar se do outro lado antecipamos uma conversa difícil.

A principal razão para procrastinar é emocional. A parte do nosso cérebro que procrastina está nosistema límbico, que está constantemente em conflito com a zona racional, onde decidimos as ações que vamos tomar. Ou seja, toda a gente vive nessa luta, apenas alguns são mais ágeis a ceder ao lado lógico.

Outra justificação para o facto de adiarmos as nossas atividades é porque o nosso tempo é inconsistente. Vivemos constantemente entre o futuro e o presente. Quando definimos objetivos –perder peso num ano, correr meia-maratona em 2025, acabar este projeto em três meses – estamos a pensar no “Eu Futuro” e conseguimos muito facilmente identificar o propósito, as recompensas, o sucesso. Mas para os atingirmos temos de trabalhar no nosso “Eu Presente”, onde o retorno é muito mais lento e muitas vezes ilegível. Isso desmotiva e leva-nos a adiar as tarefas e os compromissos.

Como podemos lutar contra isto? Existem muitas sugestões, coloco aqui algumas:

  • Reconhecer que estamos a procrastinar – às vezes, o mais óbvio é mesmo isso. Perceber que o estamos a fazer e forçar o nosso cérebro a focar-se na parte lógica. Aceitar que a atividade tem os seus desafios, mas que tem de ser feita. Começar.
  • Dividir uma tarefa grande em pequenas – deste modo, conseguimos atingir o benefício mais rapidamente e treinar o nosso cérebro a passar à seguinte. Por exemplo: ler o contrato todo vai demorar duas horas e vai ser doloroso manter a atenção. Então, vou dividir por páginas, ler duas por hora com o objetivo de o terminar até ao fim do dia.
  • Listar o custo de procrastinar – fazer uma listagem mental do que pode acontecer se se continuar a adiar um compromisso, que custos, financeiros e pessoais, podemos ter de assumir. Quanto mais não seja não cumprir uma meta estabelecida pelo “Eu Futuro”. Muitas vezes, é pior desiludir-nos a nós próprios que aos outros.
  • Criar to do lists – isto funciona muito comigo. Tenho uma lista no telemóvel do que tenho de realizar (são normalmente tarefas simples). O maior prazer que me dá é ir cortando o que vou concretizando e chegar ao fim do dia apenas com a lista do dia seguinte. Isso ajuda-me a focar e a não adiar para o dia seguinte. Mesmo que me custe muito, ver linhas a desaparecer dão-me um prazer maior que o trabalho associado.
  • Pôr de parte o que nos distrai – redes sociais, televisão, o que for. Desligar, colocar longe, desativar apps durante determinadas horas de trabalho. Inicialmente, até seremos surpreendidos por não lhes termos acesso, mas pouco a pouco, desabituamo-nos desta “muleta” emocional e concentramo-nos melhor.

Deixo para o final a mais desafiante para mim – aceitar a procrastinação. Adiar tarefas faz parte de sermos humanos.  Se isso não interfere perigosamente com a nossa vida e com aquilo que queremos para nós no futuro, é saudável cedermos à preguiça de vez em quando.

Procrastinação, portanto, mas com lógica e controlo. Façamos dela uma tarefa mais do nosso “Eu Futuro”.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 08 Fevereiro 2024

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