Pede e receberás

Todos nós sabemos das estatísticas sobre as diferenças salariais entre géneros – trabalho igual ainda não dá salário igual. Dizem até que estas diferenças só deixarão de existir dentro de 135 anos.

Mas não é sobre isso que eu quero falar. Eu quero perguntar o que é que nós vamos fazer sobre isso?

Desde pequenas que somos educadas a não falar de dinheiro. Na escola, fomos ensinadas que meninas dóceis não advogam em seu proveito, aceitam o que o grupo decide, prescindem da melhor parte para os outros.

À medida que crescemos, e entramos na vida profissional, trazemos este estereótipo para o nosso trabalho. E se somos excelentes a negociar em causa alheia – a nossa capacidade de ouvir os outros, de resolução de problemas e gerir as emoções (Women Have Unique Advantages As Negotiators: How Can They Best Leverage Them?) – somos péssimas a discutir salários e promoções para nós. Acreditamos que fazermos um trabalho irrepreensível é suficiente, que alguém estará a ver e nos pagará o que merecemos. Lamento informar – não digo que ninguém vê, mas a maioria das empresas se puder pagar menos, assim vai continuar.

As mulheres têm de levantar a mão quando uma função interessante aparece, têm de pedir recursos para fazer o seu trabalho como deve ser, têm de negociar o que merecem receber.

De acordo com um estudo divulgado pela CNBC, 60 % das mulheres nunca negociaram o seu salário e, em vez disso, despediram-se. Este número é importante, não só para as mulheres, mas também para os empregadores – podem perder trabalhadores altamente qualificados porque não criam situações práticas de negociação salarial.

E porque é que isto acontece? Porque nós sentimos que temos de merecer MESMO a promoção. Isto já acontece, por exemplo, na resposta a um anúncio de emprego – está provado que um homem envia o seu currículo se cumprir apenas 50% do que é pedido na função, enquanto uma mulher precisa de se rever em mais de 80%. Eles acreditam que merecem, nós estamos muito mais desconfortáveis com a noção do nosso “valor”. Por outro lado, uma negociação é muitas vezes encarada como um conflito, e o resultado que sair deste pode interferir com as relações futuras no local de trabalho.

Existem dicas que podemos usar para ultrapassar estes e outros receios:

  • Cumprir com o trabalho e ser excelente na profissão. Sem falhas. Perceber os objetivos e garantir que os cumprimos
  • Falar com pessoas com funções semelhantes para perceber o que é pago na indústria em questão
  • Ser claro quanto ao que queremos, mas explicar o que a empresa também pode ganhar.
  • Ter um plano B – considerar as alternativas caso não se chegue a um acordo quanto ao que se pediu. Quantas mais alternativas, maior a capacidade negocial
  • Colocar-se no lugar do outro – o que é que eles têm a perder em não chegarem a um acordo connosco?
  • Ensaiar a conversa com um amigo. Isto ajuda a treinar e a antecipar respostas negativas ou contra-negociações, bem como em estudar números e factos que sustentam o nosso pedido.

Pede e receberás. E se não recebermos, pelo menos ficamos a saber em que pé estamos, o que esperam de nós para sermos merecedores, o que a outra parte valoriza e procura.

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos da autora aqui

Publicado a 28 Setembro 2022

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