Metallica: Nothing else matters

Quando era uma jovem e namorava com o meu marido, ele escrevia-me e-mails com poemas que eram as letras das músicas de que ele mais gostava. Clássicos de Pink Floyd, Beatles, Metallica. Conta-me ele que tinha de esperar pela sua vez no computador da casa que partilhava com os amigos do liceu, que normalmente só vagava depois das 2 da manhã.

Entre esses tempos e os de hoje, passaram mais de 20 anos, casámos, tivemos filhos, comprámos casa e fizemos obras nela, mudámos de empregos, criámos uma empresa, viajámos por meio mundo, passámos uma pandemia e agora vivemos uma guerra.

A nossa geração tem passado por bastante, a nível profissional e económico. Dizem que será a primeira geração que viverá pior que os seus pais.

Penso que tudo começou a mudar com o 11 de Setembro. O mundo como o conhecíamos tornou-se diferente, a forma como vivíamos, no Ocidente, a segurança e a confiança. Com o crash de 2008, habituámo-nos a viver na imprevisibilidade, o impacto económico da Troika em Portugal, a taxa de desemprego a aumentar, as reformas a serem cortadas, os feriados a desaparecer. E quando tudo parecia melhorar, vem uma pandemia e agora o conflito na Ucrânia, aumentando a inflação para valores já não lembrados desde a década de 80 do século passado.

Mas continuamos a viver. Os filhos continuam a crescer. A nível empresarial, navega-se à vista. A capacidade de adaptação portuguesa tornou-se uma vantagem e aprendemos a reagir ainda mais depressa.

Mas houve coisas que não mudaram – as músicas que ouvíamos ainda são as mesmas. Intemporais.

Na sexta passada, fomos ver o concerto dos Metallica com os nossos miúdos. Porque eles também vibram com eles.

Gosto muito de música ao vivo e principalmente de a ouvir com os meus filhos.

Chegar ao recinto, comer umas sanduiches, escolher onde ficar, sentar à espera até começar a música, ir conversando sobre o que ainda vamos fazer, programar os dias seguintes e os mais distantes, onde queremos ir, que mais concertos queremos ouvir, e cantar em uníssono as canções da banda que entra em palco.

Na sexta passada, eu e o meu marido olhámos um para o outro e, depois, para os nossos filhos à nossa frente, já mais altos que nós, com saúde e felizes, a cantarem a canção do poema que, há mais de duas décadas, o pai deles me enviava quando namorávamos.

Dê a volta o mundo que dê, nothing else matters.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos da autora aqui

Publicado a 14 Julho 2022

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