O ninho vazio e o impacto na vida e na profissão

Para quem tem filhos, desde que eles nascem até que entram no secundário, a vida é intensa e a rotina tem momentos caóticos. Desde os horários, as boleias, as preocupações com vírus, as refeições, os lanches, as roupas, os brinquedos, as festas, o acompanhamento escolar, os fins de semana ocupados com atividades deles, toda a vida gira em seu redor e sobra pouco mais para nós que o tempo que estamos a trabalhar ou a dormir (os que dormem).

Quando atingem os 14, 15 anos, vão, gradualmente, criando a sua agenda independente, para a qual precisam pouco de apoio. Movimentam-se sozinhos, as boleias são cada vez menos necessárias. Os seus assuntos e interesses tornam-se mais pessoais e particulares, para os quais somos chamados esporadicamente.

De repente, não precisamos de sair a correr do trabalho, temos tempo para ir ao ginásio quando queremos, para ler os livros que se acumularam na mesinha de cabeceira, aguardamos as novas séries na televisão porque já corremos quase todas as que nos interessavam. Retomamos a nossa vida social, reencontramo-nos com amigos, vamos ao cinema, marcamos as férias quando os nossos filhos mostram a sua disponibilidade (que é cada vez mais curta).

E se ficamos felizes e aliviados por este crescimento e desenvolvimento natural, por outro lado há um vazio que sentimos ao nosso redor, o fim da predictibilidade e dos horários marcados terminou, percebemos que podemos preencher esse tempo com novos sonhos e objetivos.

Passei pela situação do ninho vazio recentemente. Tenho um filho na faculdade e outro a preparar-se para entrar. De repente, estava sentada no sofá sossegada. Podia ir à ginástica a qualquer hora do dia. Lia dois livros por mês. Dediquei-me a fazer bolos de aniversário elaborados, procurei novas receitas para os jantares. No entanto, isso não chegava.

Tenho uma vida profissional muito ocupada, mas sentia uma insatisfação e inquietude por ter algumas horas disponíveis para mim. Não sabia o que era, até que me sentei a escrever o que sentia e me apercebi: tinha tempo. E ter tempo, sem o usar, é para mim uma oportunidade perdida.

Comecei por me dar isso que nunca tive: tempo e calma. Para pensar, para ver o que gosto de fazer, para relaxar. Estar com as amigas, ligar a familiares, partilhar o que tenho a mais (minutos) como prefiro – com pessoas.

Depois, re-avaliei as minhas relações pessoais. Defini objectivos – uns maiores, outros mais pequenos. Desde viagens, experiências, livros que quero ler, festas e encontros que quero promover. Defini rotinas, mas não estanques – ir ao ginásio, cantar no coro, fazer uns workshops de coisas novas.

Finalmente, a nível profissional, continuo em processo de auto-avaliação. Onde posso melhorar, que função quero assumir, como crescer o negócio e por onde ir para o concretizar, talvez aprender uma língua nova, fazer uma formação numa área que me é especial, criar um propósito para além da carreira.

O ninho vazio pode ser assustador, mas uma oportunidade para reencontrarmo-nos com nós próprios e alguns sonhos que fomos guardando, escondidos, na corrida dos dias.

Agora com a calma que o tempo nos permite, a experiência que adquirimos na vida, a juventude que ainda sentimos, e, com sorte, alguns espetadores importantes a assistir.

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 23 Maio 2024

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