Networking para executivos

Por todo o lado se encontram textos e ferramentas de networking para os jovens ou para os quadros médios de empresas. É relativamente fácil treinar este processo, aliás é até expectável que pessoas com poucos ou alguns anos de carreira o façam. Faz parte do crescimento profissional e pedir ajuda a seniores ou diretores é recebido até com alguma gratidão – ser visto como um exemplo e ter a possibilidade de dar de volta deve ser entendido como um elogio e uma oportunidade, respetivamente.

Mas, e se somos um executivo sénior? Se queremos mudar de empresa, de atividade, de vida profissional e temos um cargo alto de direção?

Aqui, o caso muda de figura. Os desafios são maiores e as ferramentas de apoio, sendo menores, são mais difíceis de encontrar. Por outro lado, a própria disponibilidade da pessoa está mais condicionada.

Primeiro, a maioria dos indivíduos nestas posições têm uma maior relutância a pedir ajuda. Aliás, são eles que apoiam os outros, colocarem-se num ponto de fragilidade é impensável. O medo da rejeição e, potencialmente, exporem as suas fraquezas, leva-os a adiar o passo de contactar quem os poderá ajudar neste salto. Para ultrapassar esta fase, talvez possam começar pelos contactos de maior proximidade, gente que os conheça bem e sejam um contacto mais seguro. Amigos, antigas chefias, colegas com quem trabalharam bem, para que, pouco a pouco e recebendo de volta conversas positivas, vão ganhando confiança e treino para outros contactos.

Paralelamente a estas conversas, existe a necessidade de manter algum secretismo na procura de uma nova solução profissional. A partir de uma determinada posição na cadeia funcional de determinadas áreas, é muito fácil, com meia dúzia de frases, perceber de quem se está a falar. Este receio de que se saiba que se quer dar o salto é compreensível, mas ao mesmo tempo é pernicioso: limita as buscas, os contactos, a abertura para novas áreas e mercados. Quando se contar a história e razão da mudança talvez a melhor abordagem seja a honestidade. Ser-se honesto quanto aos seus motivos. Sempre foi a melhor solução e, na minha experiência, a que tem melhores resultados.

Se a história que se conta deve ser o mais realista e sincera, por outro lado, à medida que o processo de networking for avançando, é um facto que deve ser muito sobre mais quem se está a abordar e menos sobre a pessoa que procura a mudança. A postura deverá ser mais “Vou falar com este gestor nesta empresa – que precisará ele, que tenho eu para oferecer que lhe é uma mais-valia? Onde posso ajudá-lo a ganhar dinheiro? Vou perceber quais são as suas maiores dificuldades no momento e contar-lhe o que fiz uma vez numa situação semelhante para ultrapassar o problema.” Ser-se sucinto, direto no que se procura, mas ao mesmo tempo um bom ouvinte do que o outro poderá necessitar. Muitos executivos que procuram uma mudança acabam em posições que nem existiam antes nas empresas que os contratam. Simplesmente porque os viram como agentes de mudança e de solução para áreas que nem sabiam que poderiam melhorar.

Quando se decide mudar, ajudará talvez fazer uma lista dos contactos e dividi-los por categorias: os informadores, os que abrem as portas e os que decidem. Os primeiros são os que passam as informações do mercado, quem está à procura, quais as principais mudanças, os grandes desafios (lembro-me agora do exemplo da sustentabilidade que em tantas indústrias é e vai continuar a ser uma dor de cabeça e um agente de grandes modificações e processos e paradigmas). Os que abrem as portas são as pessoas que nos podem pôr em contacto com os que decidem, que podem pôr uma boa palavra sobre nós, como muitas vezes trabalharam connosco, sabem aquilo que podemos oferecer.

Não é fácil este processo. É demorado, porque à medida que se sobe na pirâmide a disponibilidade de lugares vai diminuindo, e pode ser doloroso. Obriga a um esforço muito maior, porque obriga a pessoa a colocar-se numa posição de vulnerabilidade.

Ajudará criar-se ferramentas de resistência e resiliência – unir-se a atividades pro-bono, fazer voluntariado, encontrar-se com amigos, praticar um desporto. Para além de alargar o número de pessoas com que se contacta, ajuda a passar este tempo de incerteza e insegurança. E cria um propósito que não é apenas a mudança de profissão.

Este texto não é apenas para quem está à procura. Também é para quem é contactado. Sejam gentis e abertos a ajudar. Não é fácil dar o passo. Hoje é essa pessoa, amanhã podemos ser nós. E, quantas vezes (senão quase sempre), não ganhamos mais do que demos de volta?

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 21 Setembro 2023

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