Marca intergeracional

Rui Nabeiro: um Senhor, um Comendador e uma Marca intergeracional.

Relato de uma história inesquecível

Seria indesculpável que, no momento em que desaparece uma figura ímpar do nosso mundo empresarial, não dedicasse este artigo ao Comendador Rui Nabeiro e ao legado que deixou junto dos seus (e de nós).

Ao seu tempo, foi provavelmente o primeiro a entender o poder que uma marca pode representar, enquanto principal ativo de uma empresa e exemplo de partilha na comunidade, tornando-a um orgulho nacional e uma bandeira da portugalidade.

Devo-lhe o testemunho do seguinte episódio, que me surpreendeu e me marcou para sempre, no percurso profissional que tive o privilégio de manter com o Grupo Nabeiro, enquanto formador ou consultor:

Um curso de formação de executivos aos mais altos quadros da Grupo Delta, levado a cabo pela Católica Lisbon School, do qual era coordenador, teve início e fim em Campo Maior, precisamente na sede da empresa. E os momentos mais marcantes e inesquecíveis foram, precisamente, aqueles onde interveio o Sr. Rui Nabeiro.

Na abertura do curso, soube transmitir as palavras sábias de incentivo à aprendizagem, partilhando a humildade de que todos precisamos de nos revestir quando queremos conhecer novos mundos e realidades. Ele, que teve os seus estudos interrompidos, em tempos muito difíceis, por força da necessidade de encontrar trabalho, nunca deixou de querer aprender, explorar o desconhecido e caminhar sempre pelos trilhos menos confortáveis. Rendidos à dimensão do seu discurso, todos fizeram por tornar o curso um momento de aprendizagem e partilha, através do desenvolvimento de projetos reais que reuniram a ambição de criar valor para a empresa.

O dia de encerramento coincidiu com o meu 50º aniversário.  Não dando relevância ao facto, aceitei de bom grado a indicação desse momento para me deslocar a Campo Maior, uma vez que era a data preferida do cliente. Decorridas as apresentações de todos projetos, seguiu-se um momento de confraternização no antigo restaurante Aperta, que havia sido um lagar de azeite. O momento era de particular entusiasmo e felicidade entre os presentes, não só pelo êxito alcançado e diplomas recebidos, como pela presença da figura maior da empresa, conferindo com isso, a máxima importância ao evento.

Sentado à minha frente, no final do repasto e dos discursos, o Comendador Rui Nabeiro fez questão de me oferecer uma recordação do momento, retirando de debaixo da mesa aquilo que parecia ser uma máquina de café Delta. Pouco habituado a estes mimos, manifestei emocionado o meu agradecimento por tão gentil oferta, sobretudo por tê-la recebido das mãos de uma figura ímpar.

“Não vai abrir?” – perguntou o Sr Rui Nabeiro.

Abri e retirei a máquina. Pintada à mão a letras douradas, a máquina trazia escrita a seguinte frase: “Parabéns Pedro Celeste, pelos seus 50 anos”!  Nos minutos que se seguiram não tive forças para pronunciar nenhuma palavra. Não tinha partilhado a data com ninguém, mas ele sabia. Ou alguém sabia e ele teve o gesto.

Nos anos que se seguiram e que virão, nunca irei esquecer este gesto, apenas ao alcance de pessoas maravilhosas, que sabem que são as coisas simples, mas genuínas que nos marcam para a vida.

O rasto de uma cultura de abnegação, respeito, dedicação aos mais frágeis, vontade de partilhar e ajudar não está ao alcance de muitos. O exemplo que o Sr. Rui Nabeiro deixa às novas gerações reflete-se no facto de serem incontáveis as mensagens partilhadas entre os adolescentes ou jovens adultos sobre a notícia inesperada do seu desaparecimento.

Era uma figura e uma marca intergeracional.

Não é do passado, do presente ou do futuro. É das que nunca se esquecem!

 

P.S. – O meu abraço fraterno a todos os seus familiares e a todos aqueles amigos e amigas com que me cruzei ao longo dos anos, que tiveram a felicidade de com ele trabalhar. 

 

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Publicado a 22 Março 2023

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