Jenny from the block

Hoje, numa formação de liderança, um dos oradores usou a expressão “Jenny from the block” para se definir como líder. Achei muito curioso e revi-me completamente na frase e na explicação. Significa não nos esquecermos donde vimos, quem somos, as nossas raízes, independentemente da posição profissional que se atinja. Apesar de tudo, da vida, da função: I am still Jenny from the block!

Se a frase é, por um lado, um resumo da importância de nos mantermos fiéis ao que somos, não nos deixarmos deslumbrar com o crescimento profissional e tudo o que vem com isso, por outro lado, eu acredito que esses pés assentes no chão poderão ser uma forma de chegar à equipa e de liderar pelo outro e para o outro, muito menos para si.

Cada pessoa tem as suas origens, a sua língua, o seu vocabulário e experiência pessoal. A família onde nasceu, como foi educada, sem dúvida que a marcam e leva consigo pela vida. Toda a gente tem isso. Toda. E é essa diversidade que, numa empresa global, a torna rica de conhecimentos, saberes, histórias e aprendizagens.

Num mundo onde se espera tanto de nós, que nos adaptemos às mudanças que acontecem todos os dias e, quantas vezes, tão dramaticamente, ter a noção dos nossos valores-base, do nosso block, é fundamental para mantermos o foco no que é importante. E são esses valores, que sendo aceites e conhecidos por nós próprios, nos tornam autênticos.

Eu acredito que nada é mais difícil de manipular do que a autenticidade. Mesmo quando vejo atores em papel, se os conheço por entrevistas, pelas redes sociais, ou até pessoalmente, é muito fácil apercebermo-nos de que há traços, expressões, que são indistintamente deles. Até o melhor ator leva coisas suas para palco.

Ora, para uma função de liderança, nós levamos intuitivamente também os nossos traços de personalidade. O autoconhecimento, e a aceitação do que somos, ajuda-nos a sermos autênticos. Facilita a gestão da nossa relação com os outros, gastamos menos energia a tentar ser outra pessoa e ganhamos a confiança de quem gerimos.

Além disso, é um facto que nos pode colocar numa posição de vulnerabilidade, mas está provado que rendermo-nos ao que somos ajuda a quem convive connosco a aceitar-se, também, como é. Damos o que temos para dar e, em troca, recebemos mais do que pensávamos. Recebemos a pessoa como ela é. Autêntica.

Um líder que se conhece e se aceita como tal, é um líder que mais facilmente vai conseguir abraçar quem lidera. Eu mostro-te o meu block, tu mostras-me o teu, e aprendemos muito um com o outro. Provavelmente, que temos mais em comum do que pensávamos.

E este reconhecimento é um caminho traçado em conjunto que é facilitado.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 07 Dezembro 2023

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