Intuição

Há muitos anos, comecei a sentir que algo não estava bem com uma parceria que tinha. Comentei com o meu marido, que desvalorizou completamente a situação – não havia nada de concreto que sustentasse o que sentia. Todavia, em cada conversa, em cada email, em cada processo, havia alguma peça que não encaixava, algum olhar, a própria escrita das frases me soava diferente. Fiquei alerta e atenta e, de facto, meses depois o que eu já imaginava aconteceu. E os danos foram mais bem controlados uma vez que eu decidi seguir os meus instintos e preparar-me para vários cenários.

Acredito que a minha intuição vem de um treino diário de leitura de pessoas, situações e até evolução dos mercados, porque é esse o meu trabalho. A vida comercial leva-nos o foco para perceber emoções, conhecer as pessoas e as sua motivações e, com isso, intuir os próximos passos e decisões. Pessoalmente, às vezes até consigo sentir se alguém precisa de mim, mais pelos seus silêncios do que pelas suas palavras. Isso não significa que não seja surpreendida muitas vezes!

Num mundo em que não controlamos quase nada do que vai acontecendo – pandemias, guerras, eleições – a intuição pode ter um papel fundamental no momento da decisão. Muitas vezes, mesmo rodeados de factos, é o nosso “gut feeling” que nos orienta para uma opção. Sem percebermos, a nossa mente vai para o subconsciente, onde tantas e tantas informações estão armazenadas, onde experiências estão guardadas, memórias de situações semelhantes ou de imagens futuras, nos guiam para escolhas que não conseguimos bem definir porque as fazemos.

O segredo está no balanço entre o que é a nossa perceção e a lógica por trás da questão a resolver. E é este jogo entre a emoção e a razão que muitas vezes definiu grandes líderes e grandes visões: percebiam para onde o mundo estava a evoluir e, com isso, criaram processos ou produtos que facilitaram o caminho.

E se esta capacidade é importante para um líder, todos nós no nosso dia a dia temos vantagens em ouvir a nossa intuição. É provável que nos tenhamos apercebido mais dela quando o que imaginávamos aconteceu e, na altura, não lhe demos a importância devida.  É por isso que eu acredito que esta habilidade pode ser treinada e ajudar-nos a gerir o risco, a dar valor ao que merece, de facto, o nosso crédito, a acelerar o processo decisivo e a confiar em nós próprios e no nosso conhecimento empírico, lógico, mas também emocional e experiencial.

Se há coisa que a vida me ensinou é que os números também se enganam. Já a minha intuição… levo-a muito a sério.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 05 Dezembro 2024

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