In my life

Na minha vida, tenho muitas variáveis — os filhos, a família, o trabalho, os amigos, os hobbies, a música. Tive a sorte de poder fazer, na maioria das vezes, as minhas escolhas livremente. Quero com isto dizer que sempre viajei em trabalho quando precisei e achei que devia fazê-lo, como desacelerei, ou optei por outro tipo de vida profissional, para acompanhar a família.

Estes meses que passaram, em que as escolhas foram feitas por nós e tivemos de estar em casa com o nosso núcleo, apercebi-me, porque tive tempo para pensar, da sorte que tenho com os meus filhos — um já adolescente, e outro a entrar nesta fase. No início, preocupei-me com o efeito da pandemia e dos confinamentos no seu desenvolvimento. Mas a forma como lidaram e cresceram nestes tempos tão exigentes de aulas online, distância dos seus amigos, dos seus gostos, das suas atividades, ensinaram-me muito.

A quatro, criámos momentos e tentámos que o tempo passado deixasse algumas memórias boas — fins de semana gastronómicos temáticos, em que cada um escolhia um país e a partir desenhávamos as refeições. As rotinas de ginástica, caminhadas, sagas de filmes. Os jantares com bandas sonoras escolhidas por cada um. E o estudo e o trabalho, muitas vezes de volta da mesma mesa, outras tantas cada um no seu canto.

Há umas semanas, na primeira saída de trabalho do país em que estive uma semana sem eles, em que entrei num hotel e tive um quarto só para mim, em que não precisei de pensar nos menus dos almoços e dos jantares todos da semana, custou-me. E, ao deixar-me levar pela saudade boa de quem está longe, mas sempre perto, percebi que podia viver sem a rotina louca das viagens, das reuniões, dos jantares, dos ensaios e dos concertos. Talvez seja a idade a tomar conta de mim, o perceber que o que vem pode ser mais curto do que o foi, mas, verdadeiramente, o mais importante da vida são os filhos, a família, e alguns amigos.  E o tempo que podemos passar com eles, nem que seja cada um no seu canto, em silêncio a fazer as suas coisas, são o mais precioso que se pode ter na vida.

O que aprendi com ter tempo para escolher pratos novos para experimentar, rever matéria dada online, perceber (finalmente!) a saga da Star Wars e dos Vingadores, ouvir canções com os miúdos a ler os poemas como deve ser, tornou toda esta fase uma maravilhosa descoberta dos seres humanos que habitam comigo. Como aquele dia em que descobri que a música favorita dos Beatles do meu filho mais velho é também a minha. E a que dá nome a este texto e que descreve melhor do que todas as palavras que aqui pus, o que sinto:

In my life

There are places I’ll remember
All my life, though some have changed
Some forever, not for better
Some have gone and some remain

All these places have their moments
With lovers and friends I still can recall
Some are dead and some are living
In my life I’ve loved them all

But of all these friends and lovers
There is no one compares with you
And these memories lose their meaning
When I think of love as something new

Though I know I’ll never lose affection
For people and things that went before
I know I’ll often stop and think about them
In my life I love you more

 

In my life I love you more

Publicado a 15 Julho 2021

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