Fusões, Aquisições e Igualdade de Género

Vivemos num mundo de fusões e aquisições. Só nos Estados Unidos existem mais de 2000 fundos de investimentos que, diariamente, escolhem empresas e indústrias para comprar. Grandes companhias compram outras, para alargar mercados, para aumentar posições, para renovar negócios.

Há dinheiro. Há apoio ao investimento (veja-se o Portugal 2030) e, com isso, há mudanças de pessoas de uma corporação para outra. Acontece todos os dias. Assistimos a isso nas notícias, nos contactos com clientes, parceiros, fornecedores, concorrentes.

Há uns tempos, numa conversa informal sobre uma possível aquisição que conhecíamos, perguntava aos meus companheiros de reunião: “e qual será a posição do comprador acerca da igualdade de género?”. Do outro lado, um grupo de homens duma empresa que desde sempre foi pioneira nesta política, ficou sem resposta. Apenas comentaram: “nem tínhamos pensado nisso…”

Pois não. Não tinham. Para eles nunca tinha sido questão e na empresa onde trabalhavam esse era um não assunto. É perfeitamente aceitável que nem lhes tivesse passado pela cabeça.

Mas aquela reação ficou na minha cabeça – quantos destes fundos, destas organizações compradoras, que vivem em realidades privilegiadas, colocam esta questão na mesa das negociações? Até que ponto são salvaguardados os direitos das mulheres nas fusões e nas aquisições?

Até porque nem tudo o que parece, é. Até se pode ser adquirido por uma empresa de uma nacionalidade com leis de proteção de género, com políticas específicas para o tema, mas, por incrível que pareça, isso não chega. Já trabalhei com companhias de quase todas as origens e posso afirmar, pela minha experiência, que, por exemplo, a pior de todas vinha de um país cuja bandeira é a igualdade de género e a sua posição mundial nesta política está no topo.

Se preferirmos, basta ficarmos por Portugal. Somos um país com leis específicas e ouvimos diariamente posições de donos de empresas com peso na economia a fazer comentários inexplicáveis e a gerir os seus negócios como se ainda vivêssemos em tempos remotos.  Assim sendo, não estamos protegidas. Num mundo em movimento, onde as mudanças são apresentadas como oportunidades, e serão com certeza, para as mulheres o risco associado para a sua carreira é muito maior.

Acaba por ser uma roleta russa, ninguém sabe quem nos vai aparecer à frente. E se considerarmos ainda que os gestores dos fundos de investimento são, na sua maioria, homens (na Europa, por exemplo, apenas 8 % tem mulheres como CEO e apenas 20 % em posições de direção), não acredito que este ponto seja uma preocupação para eles. Até porque, no final, money talks.

A única solução passará por colocar este tema na agenda das organizações que lideram a igualdade de género. Incluir mulheres nas negociações para que as questões sejam postas e as respostas colocadas por escrito. Proteger a qualquer nível, incluindo o financeiro, as mulheres que fazem parte das F&A. Pensar e falar sobre o assunto.

Finalmente, e para quem está a meio de uma compra, esperar que corra bem.

 

Publicado a 25 Janeiro 2024

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