Cultura

Há muitos anos, recordo-me de visitar uma empresa onde toda a gente era extremamente antipática. Desde a rececionista, passando pelo comprador até ao diretor industrial — todos os funcionários tinham o mesmo comportamento fechado, desconfiado, até sarcástico com as pessoas de fora. Foi nesse momento que me apercebi de que existe mesmo a chamada cultura empresarial. Cultura essa que é passada, ensinada, motivada e, muitas vezes, influenciada apenas por uma pessoa que, invariavelmente, é quem manda.

Se, nalguns casos, é flagrante a sua existência, como o exemplo que mostro em cima, noutros é mais subtil, demora tempo a perceber-se, e só se manifesta pela presença dos seus colaboradores — a rotação de pessoas é um sinal claro de que a cultura definida não funciona para todos, devendo ser analisada internamente e refletida sobre si. Normalmente não o é.

Conheço uma organização onde a maioria das pessoas trabalha lá há décadas. Quando se apresentam, têm muito orgulho em dizer que estão ali há 15, 20, 25 anos. Convivendo mais a fundo com eles, nas reuniões e nos processos, fiquei francamente admirada com a gentileza, o cuidado, o respeito pelo outro. A escuta ativa, o sentido de humor, a descontração, mas o focus sempre nos resultados. Com o tempo, apercebi-me da formação que é dada nesse sentido, a preocupação em ter ferramentas que recordam regularmente como esse comportamento é essencial para a empresa. As pessoas não esquecem porque não as deixam esquecer-se. Tem sido uma excelente escola, para mim, sobre como fazer as coisas bem.

Diz-se muitas vezes que não se deixam empregos, deixam-se pessoas. E, numa altura em que manter recursos humanos competentes e capazes é crucial, talvez seja importante rever a cultura que a sua empresa transmite: qual é? Que missão, que comportamentos, quais os valores que a organização define como cruciais? Qual o seu papel neles, como pode ajudar? Acredita neles? Consegue vê-los a serem postos em prática?

É um bom exercício, mas muito longo e talvez até doloroso. Nem todos estamos preparados para isso.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos da autora aqui

Publicado a 28 Abril 2022

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