Copo meio cheio

Esta semana tive de cancelar o meu regresso ao Reino Unido pela terceira vez. Primeiro porque teria de fazer 14 dias de quarentena, depois porque os portugueses não podiam entrar no país e, desta vez, porque teria de me autoisolar até ter o PCR negativo – o que seria no dia de regresso – fui obrigada a desmarcar tudo.

Iria direta da Alemanha para lá, portanto, estive apenas com os germânicos. Mas até essa viagem complicou – o voo atrasou 4 horas, enganei-me a comprar o bilhete de comboio (estou realmente a perder qualidades – uns meses sem viajar e parece que perdi o músculo), e no dia do regresso parti o meu telemóvel. Sim, esse equipamento onde cabe a nossa vida: certificado de vacinação, bilhetes de avião, emails, contactos, filmes, livros, tudo. A vida.

Sempre fui de aproveitar todos os momentos das minhas viagens. Costumo dizer que até dos aeroportos gosto muito. Agora, que saio muito menos, procuro ainda mais que cada segundo valha a pena, mesmo quando nem tudo corre bem. Viajar em tempos de pandemia obriga a mais elasticidade, olhar para o que foi possível fazer e se o objetivo da viagem foi cumprido.

Assim, queria reunir-me com a minha parceria alemã e consegui. Quando parti o telemóvel, emprestaram-me um e descobri uma cópia de segurança do que tinha no outro no meu computador. Nada ficou perdido. Também pude ir a uma feira de Natal (dois dias antes de serem fechadas), bebi Glühwein e cerveja, comi raclette, pretzels e salsichas, falei espanhol, inglês e risquei um pouco de alemão. Por causa do atraso do voo no Porto, pude tomar café com uma grande amiga que tinha voo pelas mesmas horas, abracei a minha prima que já não via desde antes de março de 2020. Aprendi uma tecnologia nova, fiz networking e, nas viagens de comboio e de avião, comecei a segunda temporada do The Morning Show.

Copo meio cheio, sempre. E ainda mais nestes tempos estranhos que não controlamos.

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos da autora aqui.