Começos

Adoro começos e primeiras vezes.

Abrir uma agenda no dia 1 de janeiro, as folhas todas em branco, marcar os feriados, os fins de semana, os aniversários, as viagens e as reuniões já planeadas. Cheirar o papel, ver os dias da semana nas diferentes línguas. Aterrar num aeroporto que não conheço, procurar o caminho da saída, buscar o táxi, o comboio ou o metro ou a boleia. Olhar para as placas para não me perder, puxar a mala enquanto escolho a linha que devo tomar e compro o bilhete na máquina que está num canto que nunca vi. Abrir um menu pela primeira vez, ver que pratos me apetecem nessa refeição, se me parecem familiares ou se são termos desconhecidos. Entrar numa loja e ver se há alguma peça que me agrada. Entrar num quarto de hotel, ver se a vista é bonita, se a cama é confortável, se há espaço para a mala, se o chão é alcatifado ou não. Ouvir uma música recente, assimilar o que me faz sentir, se a quero reproduzir novamente. Ir a um concerto desejado há muito, ansiar pelo início dos primeiros acordes. Abrir uma pauta de música nova, balbuciar-me o tempo, depois as notas, enganar-me nas entradas da minha parte do coro, desviar-me do tom correto. Recomeçar tudo outra vez.

Passear numa cidade que nunca visitei. Olhar para as pessoas, as ruas, os cafés. Espreitar para dentro das casas, dos prédios. Como conduzem, se param nas passadeiras, se buzinam, se aceleram ou esperam. Gostar muito de um sítio que se vê pela primeira vez e ter a sorte de não o fazer sozinha.

Estar frente a frente com alguém novo, conversar, ouvir o tom de voz ou a língua que falam, perceber como reagem a perguntas, o que dizem quando se apresentam. Medir o meu tom e o meu entusiamo, se me rio demais ou de menos. Perceber se essa pessoa já acabou o seu discurso ou se a vou interromper se falar. Entrar num novo projeto, ter toda uma expectativa que tento controlar, planear os passos, o que pode correr bem, o que pode derivar para outro lado, como posso ser uma peça que ajuda. Estudar produtos novos, clientes novos, técnicas novas. Saber que vou aprender mais do que ensinar.

Frios na barriga, ansiedades, noites mal dormidas, nervosismos.

Cheiros, sabores, olhares, sons, notas musicais, toques, pessoas.

Tão boa a primeira vez que os temos, que os conhecemos.

O começo nunca mais se repete e vem carregado de esperança, uma maior atenção e um otimismo quase infantil, devendo, por isso, ser saboreado ao máximo.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos da autora aqui

Publicado a 12 Janeiro 2022

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