Coldplay

A semana que passou girou um pouco à volta dos concertos dos Coldplay. Com uma média de 50 mil pessoas por dia, podemos dizer que 200 mil assistiram a um grande espetáculo.

Independentemente de gostarmos mais ou menos da banda, de os acharmos mais comerciais nos dias de hoje, é inquestionável que quem lá esteve, gostou.

Eu fui ao primeiro dia e, de entre tudo a que assisti — os Coldplay, o Chris Martin, cores, luzes, músicas, letras conhecidas, mensagens — tentei avaliar o que uniu as multidões dos quatro dias. E percebi que se podem tirar boas lições para os negócios porque, no limite, os Coldplay são uma marca, têm equipas e, convenhamos, a música é uma indústria.

O que funcionou ali?

Fazer parte

A música une. Indiscutível. As músicas e as letras eram conhecidas. Cantar em uníssono, um coro de milhares de pessoas, é fabuloso. Olhar para o lado e ver os meus filhos e o meu marido a repetir a mesma canção foi… bonito!

Mas o facto de, para além disso, cada um de nós ter uma pulseira que brilhava com as outras deu-nos ainda mais um sentimento de pertença. Mesmo sabendo que éramos só uma pessoa em cinquenta mil, nós sabíamos que se a nossa luz não acendesse o espetáculo não seria o mesmo. O facto de o nosso pulso, a abanar no ar, dar a cor (que até era alguém a escolher por nós) que víamos repetida do outro lado, fazia-nos sentir parte de um bem maior. Nós víamos as estrelas opostas, o que queria dizer que alguém nos via a nós também, que tinha consciência da nossa existência. Ali, nós existíamos e éramos importantes.

E se essa noção de pertença me chegou na primeira noite, confirmou-se nas seguintes. Os Coldplay pediram que devolvêssemos as pulseiras, mas alguns não o fizeram. E, nas últimas noites, não houve disponibilidade para todos e tenho amigos que ficaram tristes por não poderem participar como o resto da assistência.

Pertencer. As pessoas querem sentir que contam numa organização e que por muito pequeno que o seu papel possa ser, até igual a tantos outros, ele faz a diferença. Cintila.

A mensagem

No concerto que nos proporcionaram, o vocalista explicou que o objetivo deles nessa noite era trazer-nos alguma alegria numa altura em que tantas incertezas e injustiças acontecem no mundo.

Lembrar-nos que temos um papel na salvação da Terra, para que se torne sustentável para as gerações vindouras. Houve quem pedalasse nas bicicletas colocadas no local ou saltasse como uns loucos nos sensores no relvado para gerar energia verde.

Everyone is an alien somewhere e podemos acreditar no Amor, disse-nos.

É uma mensagem original? Não, não é.

Mas repetirmos algo tão simples, em conjunto, foi como regressar às origens. Na verdade, all you need is love. Todos os aliens do mundo, no qual me incluo, apenas precisam de Amor. E, se quisermos, até podemos salvar a Terra. Basta “pedalar” por nós, mas principalmente pelos que ainda virão.

Quem não se identifica com isto?

Mensagens simples e compreensíveis, que chegam a todos. Uns mais, outros menos, mas saber para onde vão e porquê, é fundamental. E repeti-las. Muitas vezes. A sós e em conjunto.

A liderança

Um vocalista que, de um modo informal, nos repetiu as mensagens acima. Entre momentos de glória com as luzes a piscar e a cantarmos em uníssono.

Coreografou 50 mil pessoas para baixar e saltar ao mesmo tempo no refrão das canções. Numa altura em que se vivem quase todas as sensações por detrás dos miniecrãs dos telemóveis, conseguiu que o estádio inteiro os arrumasse no bolso da roupa e curtisse uma música inteira. À moda antiga. E a energia foi diferente. Oh, se foi.

Finalmente, puxou um jovem para o palco, que lhe pedia num cartaz se podia tocar piano com ele, e Chris Martin cantou com o rapaz, agradecendo no final com um: thank you, my brother. Ali, diante de todos, a certeza de que os sonhos se realizam: tudo é possível, até fazer um dueto com o Chris Martin enquanto 50 mil pessoas assistem.

Pelo meio, fez um esforço genuíno por dizer mais do que meia dúzia de palavras em português e até tocou um fado de Coimbra.

Fez tudo certo. Se era o protagonista, mais parecia o maestro. A dada altura, acredito mesmo que nos estava a guiar. Falava para todos, mas sentíamos que se estava a dirigir a cada um de nós em particular.

Fomos todos lá por eles, pelos Coldplay, pela equipa. Mas mais parecia que eles é que nos tinham ido ver. Às pulseiras que irradiávamos, ao coro que parecia afinado, à dança que fazíamos dos nossos lugares.

Isso é liderar: guiar as pessoas por um caminho que elas compreendam. Fazê-las sentir que esse caminho é construído por elas e que, sem elas, ele não existiria. Empoderar os outros, sem perder o seu poder. Fazer os outros cintilar, sem escurecer a sua própria luz.

No meio das luzes que brilhavam na cidade, uma era eu. Outra eras tu. Todas elas eram de aliens que, a dada altura, libertaram-se umas horas das amarras da vida do dia-a-dia e acreditaram no Amor.

Ao som dos Coldplay.

Este texto é dedicado ao meu filho Pedro, que faz hoje 18 anos.

Look at the stars. See how they shine for you. And everything you do.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 24 Maio 2023

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