Cantar num coro

Há uns tempos enviaram-me um texto sobre o bem que faz à saúde cantar num coro. Nesse texto, o autor dizia coisas como: cantar liberta uma grande quantidade de endorfinas, o que nos dá uma grande sensação de prazer semelhante à morfina, escondendo ou tirando a dor. Outra hormona que dizem estar presente no momento em que cantamos é a serotonina. Afirma-se que, quando começamos a cantar, libertamos este químico que está diretamente ligado ao humor e à sensação de alegria.

Até pode ser por essas razões que cantar num coro faz tão bem, mas eu acredito também que estar com um grupo de pessoas durante algumas horas por semana, ensaiar e depois participar em concertos é muito mais do que isso.

O facto é que aprendemos muito sobre a sociedade: aprendemos quanto devemos calar e quando devemos dar a palavra; quando é importante aumentar o tom, quando é importante baixá-lo; qual é a altura certa de entrar. Acima de tudo, aprendemos o que é liderar, o que é ser liderado, por alguém que admiramos e respeitamos — o maestro.

Eu tenho muita sorte de cantar no mesmo coro há muitos anos e, por isso, com as mesmas pessoas há imenso tempo.

São essas pessoas que sabem, apenas pela forma como eu entro para o ensaio e começo a cantar, se o meu dia correu bem ou mal. Sabem quando é que eu me vou enganar e, por isso, milésimos de segundos antes, nas atuações, dão-me um toque no braço para me chamar atenção.

Ou, com um rápido olhar de esguelha, sabemos exatamente o que a colega do lado está a pensar.

São essas pessoas com quem eu tenho feito uma grande amizade, criado uma grande empatia e uma enorme cumplicidade, só possível por estarmos com música entre nós.

Há muito tempo que eu não ia aos ensaios, mas pedi para aparecer neste concerto de Natal, conhecia bem as canções.

E, como sempre, na forma como eu me senti em casa, como fui embalada pelo grupo, como me senti querida, concluí que faço parte de um Bem Maior.

Cantar num coro é como uma família. Discutimos, reclamamos, estamos cansados, resmungamos, mas todos nós sabemos que aquilo só corre bem se estamos todos juntos em sintonia e a cantar afinados. Ficamos muito felizes quando aquele naipe conseguiu não se enganar na parte do costume, quando conseguimos que a música que corria sempre mal soasse tão bem. Ficamos principalmente felizes quando nós também não estragamos a melodia. A responsabilidade de não ser mais nem menos. Que o grupo precisa que nós, não porque somos melhores, mas porque juntos é que soamos bem. Protegemo-nos, ajudamo-nos, acolhemo-nos.

Essa sensação de pertença liberta as morfinas, as serotoninas e as endorfinas todas.

A certeza de que juntos somos mesmo mais fortes.

Que, não sendo mais que ninguém, somos essenciais.

Este ano queria cantar mais. Faz bem. Faz-me bem.

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos da autora aqui

Publicado a 12 Janeiro 2023

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