À beira do Danúbio: os sons e as cores de Viena

A capital austríaca, cidade da música, de inúmeros museus e do Danúbio tem, como boa parte das grandes urbes europeias, inúmeros polos de atracção. Mas a Áustria é muito mais. Sente-se na beleza da Salzburgo de Mozart, ou mesmo no sabor da gastronomia regional dos restaurantes da pequena Innsbruck, especialmente na companhia dos vinhos brancos da casta Grüner Veltliner, com as suas notas citrinas, a lembrar toranja e limão, o toque de pimenta branca e a sua frescura. Usufrui-se em paisagens naturais como as dos grandes lagos Mondsee ou Attersse, ou nos mais pequenos, de alta montanha, como o Gosausee. E no frio convidativo da grande gruta de gelo de montanha de Daschtein, após a subida de teleférico, com a sua sala Parcifal ou a pequena «capela», e na beleza do glaciar montanhoso de Pastereze, ou no vigor furioso das águas tempestuosas das cataratas de Krimml, com os seus 400 metros de desnível. Só que a Áustria é indissociável da sua capital.

As margens dos Danúbio e dos seus canais são uma opção para passeios agradáveis.

Aos olhos do mundo, é o cerne da música clássica. Todos os anos isso é relembrado pelo ecoar dos sons do Concerto de Ano Novo, que decorre na sala de concertos Musikverein,  através da caixa das imagens e do som: a televisão.

Despontar do dia

Viena pode ser pouco convidativa ao despontar do dia, ainda com as ruas vazias de pessoas. Quando lá chegámos era, talvez, demasiado cedo. Mas só se conhece verdadeiramente a vida de uma cidade quando estamos lá em todos os seus tempos. Estava suja e desinteressante na hora da distribuição das mercadorias pelos estabelecimentos comerciais, quando os camiões do lixo ainda se encontravam na recolha.

Os raios de sol, perfurando as nuvens e iluminando a cidade, começaram depois a despertar os sentidos do visitante para as suas cores. Pouco depois chegaram os primeiros dos muitos ciclistas que percorrem as suas ruas, apressados para o início do dia de trabalho.

Por todo o lado viam-se carruagens puxadas por cavalos, com os seus cocheiros mais ou menos vestidos a rigor, já à espera das levas de turistas. O palácio imperial, o Hofburg, sede da Casa Hasburgo até ao nosso século, fez-nos despertar com a sua grandiosidade. Era ali que iriamos nessa manhã, à descoberta dos seus muitos tesouros. Viena começava a tornar-se sedutora.

As carruagens que transportam os turistas pelo centro da cidade são inúmeras.

A célebre Sissi

Situada numa zona estratégica das margens do Danúbio, a região de Viena apresenta vestígios de habitações humanas datadas de 5 mil anos a.C.. Mas foi cerca de 100 anos após o nascimento de Cristo que foi erigido, pelos romanos, o campo fortificado de Vibona, na zona onde hoje se encontra o bairro central da cidade. Em 1155, os Babenberg, família reinante na região, fixaram a sua residência em Viena, que se desenvolveu a seguir.

Com a chegada do século XIV, a família Habsburgo ascendeu ao poder, que manteve até ao século passado. O fim dá-se no terminus da 1ª Grande Guerra, com o exílio de Carlos, filho de Francisco José, marido da célebre Sissi, a princesa bávara retratada por Romy Schneider na série de filmes cor-de-rosa que lançou a actriz (que era muito mais bonita que a original).

Nos séculos XVI e XVII, a capital austríaca foi atacada pelo exército turco. Após o assalto otomano de 1683, arquitectos do barroco como Lucas von Hildebrant e Fischer von Erlach supervisionaram a construção de alguns dos belos palácios que hoje podemos ver em passeio pela cidade.

O de Belvedere, cuja construção data do início do século XVIII, foi mandado erguer por ordem do príncipe Eugénio de Saboya em frente às portas de Viena. É um dos mais belos exemplos da arquitectura barroca na Europa. O pavilhão mais próximo do centro de Viena, o Belvedere Inferior, abriga o museu de arte Barroca. A 500 metros, após um jardim de estilo francês e situado num plano mais elevado, encontra-se o Belvedere Superior.

O palácio de Hofburg, residência da família real, guarda lembrança de muitos banquetes, alguns deles para milhares de pessoas.

Outro exemplo do estilo barroco é o Palácio de Schönbrunn, residência de verão dos imperadores austríacos. Mandado erguer para competir com o Palácio de Versalhes, ficou diminuído em relação ao projecto inicial por falta de verbas. No entanto é belo. Deve-o à acção da imperatriz Maria Teresa, mulher de metro e meio e 130 quilos de peso que governou, durante mais de 60 anos, o império austro-húngaro. Uma visita ao complexo, constituído também pelos jardins, fonte de Neptuno, Gloriette (um arco do triunfo), Jardim Zoológico e Palmeiral, é indispensável.

No reinado de Francisco José

Após as invasões napoleónicas do início do século XIX e de várias convulsões políticas e sociais que se lhes seguiram, iniciou-se, em 1848, com a coroação do jovem imperador Francisco José, então com 18 anos, ao início de um período de neo-absolutismo. Durante o seu reinado, o monarca mandou deitar abaixo as muralhas que defendiam a cidade e construir a magnífica avenida, ladeada de monumentos, que constitui hoje o «Ring». Delimita e circunda a cidade antiga, o bairro central da capital austríaca, primeiro dos 23 que a constituem. Viena foi frequentada, na época, por arquitectos de concepções diferentes, que se reflectem nas formas dos principais edifícios erguidos durante esse período. A Ópera e o Burgtheater mostram um misto de renascimento e classicismo italiano, o parlamento aparenta um estilo que deriva do grego e o município tende para o neogótico.

Viena possui mais de 100 museus, inúmeros monumentos, cafés e pastelarias de charme, ruas ladeadas de belos edifícios antigos (salvo poucas excepções, como o contrastante imóvel vidrado da praça de Santo Estevão, a fazer lembrar alguns dos prédios-espelho de mau gosto que cresceram, em Lisboa e não só, nas últimas décadas). Tem o Danúbio e os seus canais, cujas margens estão pejadas de pequenas casas encantadoras. E ainda o parque do Prater, conhecido pelo seu campo de futebol, onde já se jogaram finais europeias, e pela sua anciã roda gigante, celebrizada no filme de suspense “O terceiro homem”, do cineasta britânico Carol Reed. Vale a pena rever.

Cidade abençoada

Viena é uma cidade abençoada. Extraordinariamente cosmopolita no Verão, quando é invadida, por um incontável número de turistas, vindos de pontos tão longínquos como Portugal ou Japão, é uma urbe bem estruturada.

No entanto, pode ser uma armadilha para o visitante estrangeiro que tenta deslocar-se no seu interior de automóvel, já que a maioria das ruas é de sentido único e quase não há parques de estacionamento. Como resultado, aqueles que não conseguem passear sem levar o “carrinho” até à porta do destino, têm tendência para se perder. O melhor mesmo é deixá-lo no exterior de Viena, junto a uma estação de metro como a de Alte Donau, ou de outro meio de transporte. Depois, é só adquirir um bilhete que pode ser de 24 horas, ou para mais tempo, se se pretender fazer muitas viagens, e deslocar-se para a Praça de Santo Estevão (Stephenplatz), ponto central da cidade.

Apple Strudel, uma das sobremesas tradicionais austríacas.

A hora da sedução

A hora mais sedutora de Viena é a do fim do dia, principalmente na Kärntnerstrasse, e também na Kohlmarkt, ou na Graben, ruas pedonais do 1º bairro de Viena. Milhares de pessoas passeiam de forma calma ou repousam sentadas nos inúmeros bancos dispersos pelas ruas.

No início da Kärtnerstrasse, pouco depois de passar o edifício da Ópera, dois hippies tirados a papel químico dos tempos áureos do movimento, na década de sessenta, tocavam canções de Neil Young. Um pouco mais longe, um jovem barítono, de voz possante, entoava árias acompanhado pelo som de um pequeno gravador. Mais perto da catedral de Santo Estevão, um duo de cordas interpretava Mozart de forma divinal. O facto era demonstrado pela multidão que se aglomerava para os ouvir, e realçado pelos fortes aplausos ouvidos após os últimos acordes.

A qualquer hora podemos ser supreendidos com a música nas ruas centrais de Viena.

Perto das 20 horas terminava a missa das sete na catedral de Viena, cidade essencialmente católica. Na praça, uma pequena multidão de austríacos vestidos a rigor punha as novidades em dia, em amena cavaqueira de pré-ida para casa. Distinguiam-se facilmente da massa de turistas de calções e t-shirts que passava lentamente, pela forma domingueira de trajar.

Mais perto do canal do Danúbio, na Schwedenplatz, dezenas de pessoas aglomeram-se à porta de uma casa de gelados italianos, enquanto outros tantos os saboreavam à espera do eléctrico ou autocarro, ou a escutar uma banda de jazz de sexagenários que tocava sons de New Orleans à porta do metro. Eram 22 horas, a temperatura já baixara os 30 graus e a noite aparecera. Viena sabia bem.

Onde comer

Em Viena existem todo o tipo de restaurantes, de várias cozinhas do mundo, tendo em comum os preços serem necessariamente mais elevados do que o restaurante do dia-a-dia português.

Figlmüller

Para saborear algo de vienense, recomenda-se a degustação de um Wiener Schnitzel (bife panado) gigante no Figlmüller. É mesmo grande e pode ser compartilhado por duas pessoas.

Figlmüller, um dos restaurantes mais tradicionais da cidade, onde os panados enchem o prato e apetite de dois

Morada: Wollzeile 5, Viena,
Telefone: +43 5126177

Morada 2: Bäckerstraße 6, Viena
Telefone: +43 1 512 17 60
E-mail: [email protected]

 

Ferdinandt

Um restaurante relativamente barato em relação aos outros da cidade, onde se pode comer uma refeição turística, incluindo bebida, por preços mais razoáveis que a concorrência. O serviço é um pouco lento, mas a comida é saborosa.

Morada: Neuer Markt 2, 1010 Wien, Áustria
Telefone: +43 1 513 89 91
E-mail: [email protected]

Publicado a 12 Julho 2019

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