As mulheres falam muito? Será?

As mulheres falam muito? Toda a minha vida ouvi que falo demais. Na faculdade até havia a brincadeira de, num dado momento que eu estivesse a falar, haver um silêncio na sala e, de repente, toda a gente repetir em uníssono “Oh Inês, não te calas?”. Eu ria-me, corava, encolhia os ombros, e continuava a falar.

Profissionalmente, sempre foi uma característica que me apontaram. Falar muito, ter opinião, questionar, dar sugestões. Enfim, sim, de facto falava muito.
À medida que o tempo foi passando, fui controlando muito o que dizia — na quantidade, muito menos na forma. Sempre me senti livre para expressar o que sentia. Tanto que, numa interação com um CEO de uma empresa da Fortune 500, entrei numa discussão com ele que, ainda hoje, é recordada por quem lá esteve como “very bold”.
Se às mulheres está muitas vezes associado o estigma de falarmos muito mais que os homens, a realidade em ambiente de trabalho é totalmente oposta. Posso dizer, com confiança, que nas reuniões onde estou rodeada de homens (o que acontece quase sempre) sou a que falo menos. Mas muito, muito menos. Mesmo assim, sei que me caracterizam como quem continua a falar muito.
Aliás, acontece imensa vezes que, em apresentações, as mulheres tentarem cumprir o seu tempo estabelecido, quando os homens excedem com bastante conforto e tranquilidade os minutos que lhes são atribuídos.
Regra geral, está provado, as mulheres expressam menos as suas opiniões a nível profissional. E uma das razões é essa mesmo: mostrar que o sexo feminino não fala tanto assim. Mas, como ainda estamos em menor quantidade, especialmente em reuniões de direção, quando abrimos a boca chamamos mais a atenção e, não duvidem, estamos mais sob escrutínio.
É justo? Óbvio que não é. Num ambiente perfeito, tomaríamos a palavra com a mesma descontração com que fazem os nossos colegas masculinos.
Não consigo deixar de pensar se este preconceito milenar de “as mulheres falam demais” não foi criado para, mais uma vez, nos irem cortando a palavra. Ou, adicionalmente, porque provavelmente eles são piores ouvintes.
Se mesmo mais caladas que a nossa contraparte masculina, continuamos a ver-nos atribuída esta característica, então mais vale falarmos à vontade.
Já que temos a fama, então tenhamos também o proveito.

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 23 Novembro 2023

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