Às escuras

A semana passada saí de casa com uma bota diferente em cada pé. Podem acreditar, já que a mim custou a crer que isso me poderia acontecer. Tenho provas, aka tirei fotografia, para memória futura. E como consegui eu este feito inédito? Porque abri o armário dos sapatos, puxei um botim de cada vez e calcei-me às escuras. A correr, como tantas manhãs. E, nem o facto de uma bota apertar duma maneira e a outra de outra, me fizeram parar para pensar. Quer dizer, eu até me lembro que me passou pela cabeça o seguinte pensamento: “que esquisito, são diferentes”. Mas depois, como tinham exatamente o mesmo tacão e altura, arranquei para o elevador.

Só quando saí do carro e puxei o casaco para o vestir, olhei para o chão para ter cuidado para não o arrastar (é muito comprido), é que achei inacreditável o cenário.

Ainda fiz duas coisas urgentes que tinha a tratar antes de regressar a casa para fazer a troca, mas quase que me ia deixando ficar com o par descasado.

Isto pôs-me a pensar: quantas vezes, na nossa vida, tratamos dos assuntos rotineiros “às escuras”? E daí podem resultar pequenos erros? Nessa altura, quantos de nós assumem o engano e o corrigem? Ou, então, vive bem com ele?

É que as botas tinham a mesma altura, logo não me iam causar danos físicos, eram do mesmo tom, logo, nenhuma delas destoava da roupa e serviam o seu propósito: proteger-me os pés no caminho que ia fazendo. Mantendo a estabilidade e até a estética mínima. Mais valia não ter ido trocar nada a casa. Mas não sendo eu perfecionista, sou vaidosa. Por isso lá fiz o desvio, não sem antes registar o acontecimento, até para me rir um bocado de mim própria!

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 16 Fevereiro 2023

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