Amplificação

Trabalho num mundo de homens. 80% das pessoas com quem me reúno, com quem negoceio, com quem falo é do sexo masculino. E se antes dizia que até preferia, que eles são mais descomplicados, a verdade é que com o tempo me apercebo da dificuldade que é gerir estas relações.

A maior forma de discriminação que eu sinto neste mundo onde me movo é que não sou ouvida na mesma medida que os meus pares do sexo oposto. Os homens não escutam as mulheres. Até se calam para nos dar a palavra, mas a opinião cai em saco roto, não tem seguimento, não fica retida nas suas mentes. Eu até posso dizer uma coisa, escrevê-la!, que só o tempo e a experiência repetida e comprovada faz com que seja tida em conta. Mas, se a seguir um fulano disser o mesmo é aplaudido. Já me aconteceu. Muitas vezes. Demasiadas.

Mas isto não acontece só no trabalho.

Basta ir a uma reunião de pais numa escola para que uma mãe a falar seja uma pessoa ansiosa ou histérica e um pai a falar seja um indivíduo ponderado. Um pai abre a boca e tudo se cala. Uma mãe pede a palavra e começa logo tudo a coçar-se nas cadeiras. É assim. A mulher tem muito menos voz, mesmo tendo um tom mais alto e fino. Se calhar, são os genes a tentar ajudar-nos a fazer-nos ouvir.

Há uns tempos, vi uma entrevista de uma mulher que trabalhou na administração de Barack Obama. Como é usual, eram menos mulheres do que homens. Mas elas identificaram este problema de não serem ouvidas e criaram o movimento “Amplificação”. Este movimento consiste na repetição da ideia de uma mulher por outra mulher, sem deixar de dar os créditos à primeira. Significa que, à volta duma mesa de reuniões, os homens vão ouvir a mesma coisa mais do que uma vez. E funciona. Sempre dando os créditos à que primeira falou.

Tenho feito a amplificação sempre que posso (e quando é merecido, óbvio) e faço questão de elogiar o bom trabalho de outras mulheres e isso acaba por trazê-las a desabafar.

Quando estive uma vez na Alemanha, uma rapariga com quem trabalhei veio conversar comigo. Então, a jovem (tinha menos 10 anos que eu) estava ansiosa por causa de uma apresentação que ia fazer a dois diretores. Eu perguntei-lhe porquê. Disse-me: “eles são tão espertos”. Eu olhei para ela e só lhe respondi: “quando tiveres a idade deles vais ser muito melhor que eles.” E vai. Já é.

Ajudem-se a ser ouvidas.

Repitam-se.

Amplifiquem-se.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos da autora aqui

Publicado a 21 Outubro 2021

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