O jantar com Al Pacino

Na semana passada estive num jantar com o Al Pacino. Durante duas horas, o ator foi entrevistado e contou vários episódios da sua longa vida (fez 83 anos no passado dia 25 de abril). Fascinam-me histórias reais de gente que tem um percurso de vida diferente do meu. É com eles que aprendo mais, muitas vezes apenas para verificar que não interessa se somos atores, médicos ou picheleiros – há momentos de aprendizagem em todos eles e, na sua maioria, imensas coisas em comum. Isso, sim, são discursos motivadores para a minha pessoa.

Mas, então, estava ali um ícone do cinema americano, sentado a poucos metros de nós, a relatar como começou a sua carreira e que muito deve a uma professora do ensino básico. Até disse o nome dela, contou como foi a sua casa e como pediu à mãe e à avó que o deixassem seguir esta área. Assim, aos 18 anos, para ganhar dinheiro, começou a fazer teatro numa zona menos nobre de Nova Iorque, mas que era visitada por um grupo de pessoas que viriam a ser grandes realizadores – Francis Ford Coppola e Steven Spielberg, por exemplo. Estavam criadas as condições para que um núcleo de mentes brilhantes trabalhasse em conjunto e foi assim que foi convidado para o filme O Padrinho. E quando soube que ia integrar esta película, a primeira pessoa a quem ligou foi à avó, que ficou muito feliz por ele, mesmo que lhe tenha perguntado: “oh filho, o que é o Padrinho?”

Depois do êxito de O Padrinho, recebia todas as semanas dezenas de argumentos manuscritos, e recusou grande parte deles. Um foi o Star Wars e o papel do Han Solo, que seria entregue a Harrison Ford. Na altura, não percebeu o papel nem a história, era demasiada fantasia, para um ator que gosta, principalmente, de teatro e de Shakespeare. Como piada, comentou que foi ele que impulsionou a carreira de Harrison Ford com esta recusa.

Sobre os muitos filmes que contracenou com Robert de Niro, foi curioso ele explicar que são duas pessoas muito diferentes – Al Pacino gosta de ensaiar e ter tudo preparado, enquanto Robert de Niro lê o guião mas improvisa nas gravações. Tiveram de se adaptar a cada um e ele teve de ceder algumas vezes, que, admite, funcionaram. Como os diálogos no filme Heat.

Estive uns dias a assimilar esta experiência.

De facto, nós somos todos muito mais semelhantes, independentemente de onde nascemos ou do que fazemos. Todos nós teremos alguém, uma “avó”, a quem ligamos quando recebemos a nossa primeira oferta importante de trabalho. Um professor que nos marcou e de quem nunca esquecemos o nome. Também fazemos escolhas que nos prejudicaram, mas ajudaram outros. Temos sonhos e coisas que gostamos mais de fazer, os nossos “Shakespeares”, mas nem sempre temos a possibilidade de saltar para o “palco do teatro” e cingimo-nos ao que nos oferecem. Finalmente, quantas vezes temos de nos adaptar aos colegas com quem trabalhamos, para concluirmos que outros métodos e ideias também resultam.

Al Pacino ensinou-me que, no meio de uma plateia de pessoas que o admiram imenso (e muitos o idolatram!), ele foi apenas mais um de nós. A simplicidade de quem é grande, enche uma sala, mas conta histórias que podiam ser nossas (tirando o facto de terem nomes como Spielberg, Coppola ou Harrison Ford).

Al Pacino está a escrever um livro de memórias e vai gravar o filme King Lear, da peça de Shakespeare com o mesmo nome. Ainda tem tanto para fazer e é por isso que parece que a sua vida vai a meio.

E pensamos… se ele se permite a isso, do alto dos seus 83 anos extraordinários, nós também ainda podemos alcançar muita coisa!

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 04 Maio 2023

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