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Quando comecei a trabalhar era das poucas mulheres na minha área. Tanto que, durante muito tempo, eu era “a engenheira”, nem tinha nome próprio.

Recordo-me da primeira vez que entrei na fábrica de um cliente da área do calçado. Pela natureza das máquinas da produção, o ambiente era sempre muito quente, as prensas a mais de 150 graus Celsius. Os operários estavam todos de calções, sem camisas. Quando me viram a chegar, do “alto” dos meus vinte e poucos anos, menina, loira, despachada, ficaram mais atrapalhados do que eu. Na semana seguinte,  no mesmo local, mal me aproximo deles, puxam de uma T-shirt escondida na prateleira de trabalho e vestem-na para falar comigo.

Nestas duas décadas muita coisa mudou. Nas reuniões que tenho em Portugal é raro não encontrar mulheres. E estão em todas as áreas: desenvolvimento, produção, qualidade, compras, finanças. Naquela mesma área, a dos polímeros e da borracha, a mudança tem sido significativa. Se penso em pessoas com quem falo muitas vezes… são mulheres.

A nível internacional, nota-se uma tendência para melhorar a diversidade dos quadros, mas, de facto, há negócios onde isso é mais difícil. O meu, por exemplo. Ainda é um mundo masculino, ainda sou um bicho raro nas reuniões, ainda causo estranheza, surpresa e desconfiança.

Quem me estiver a ler até aqui poderá achar que já muita coisa foi feita. Não. O mundo ocidental está a abrir caminho, é um facto, mas ele ainda tem de ser melhorado, construído, preparado para que gerações futuras o possam percorrer mais facilmente.

Ainda existe uma diferença salarial, na União Europeia, de 15% entre homens e mulheres, uma percentagem residual faz parte de administrações. A taxa de desemprego feminina agravou-se com a pandemia. Aliás, a pandemia atrasou a desigualdade de género para 135 anos. Em 2018, eram 108.

Está provado que a diversidade leva ao desenvolvimento, e este à riqueza. A análise que cada um traz para encontrar soluções para os maiores, ou menores, problemas é distinta, e é essa criatividade que nos pode levar mais longe e melhor.

O cérebro feminino está mais virado para uma visão a longo prazo e um maior sentido de comunidade, o que torna as líderes femininas uma força para lutar pelo bem no mundo.

Um mundo desigual é um mundo injusto. Ninguém ganha com isso. Ninguém. As mulheres, obviamente, mas os homens tão pouco. As crises que enfrentamos atualmente não são tecnológicas, são humanas. Deixemos que as mulheres participem mais ativamente na (re)construção de um mundo mais pacífico, protetor, a pensar nas gerações futuras.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos da autora aqui

Publicado a 09 Março 2022

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