O meu maior desafio: Anna Jørgensen

Filha de pais estrangeiros que se fixaram em Portugal em 1988, Anna Jørgensen nasceu em Lisboa, cresceu no Alentejo, estudou na Dinamarca, e está de volta "a casa" para dar continuidade a Cortes de Cima, o negócio criado pelos pais.

Anna Jørgensen é chief winemaker e managing director em Cortes de Cima.

Anna Jørgensen é chief winemaker e managing director em Cortes de Cima. Filha de uma americana e de um dinamarquês, nasceu em Lisboa há 27 anos, mas Cortes de Cima, na Vidigueira, Alentejo, foi a sua casa até aos 14 anos. Foi aqui que os pais Carrie e Hans chegaram em 1988, quando ainda não havia eletricidade e água canalizada. Depois de estudarem na Vidigueira e Beringel Anna e Thomas, o irmão dois anos mais velho, foram estudar para a Dinamarca, terra natal do pai. Depois do liceu, Anna tirou um ano sabático e regressou a Cortes de Cima onde fez aquela que considera a sua primeira “vindima de verdade”.

Surgiu a oportunidade de fazer uma vindima em Barossa Valley, na Austrália e não pensou duas vezes. Bastaram-lhe duas vindimas aqui para “apanhar o bichinho do vinho. Fez outra vindima, em Borgonha, e regressou à Austrália onde tirou viticultura e enologia em Roseworthy Universidade de Adelaide. Juntou ao curriculum mais uma vindima na Nova Zelândia e outra em França, em Côte-Rôtie, o berço do Syrah, onde trabalhou como enóloga responsável. Corria o ano de 2018 e é na Califórnia, terra natal da mãe quando decidiu fazer mais uma vindima, ficou por seis meses. Voltar a Portugal não fazia parte dos seus planos, pelo menos para já, mas o desafio lançado pelos pais fê-la pensar. Anna está de regresso com uma vontade enorme de fazer mais e melhor em Cortes de Cima.

 

“O meu maior desafio? Foi, sem dúvida, aceitar o repto lançado pelos meus pais para regressar a casa e assumir o cargo de Chief Winemaker e Managing Director, em Cortes de Cima. Na altura, voltar a Portugal não estava nos meus planos, pelo menos para já, mas ponderei e aceitei. E cá estou eu.

Já lá vai mais de um ano. Na verdade este é o regresso a casa, ao meu Alentejo, onde cresci e onde vivi boa parte da minha infância. É o assumir de um negócio criado pelos meus pais em 1988 e cimentado nas últimas duas décadas. É um legado que é também um verdadeiro desafio com vinhas na Vidigueira e no litoral alentejano. Mas é exatamente isso que me motiva, ainda mais agora, que decidimos converter toda a vinha para biológico.

Numa altura em que o olival intensivo no Alentejo é cada vez mais evidente, nós vamos exatamente no sentido oposto: do respeito pela terra e pelo terroir e por uma produção cada vez mais sustentável e uma abordagem holística à vinha. Cada vez faz mais sentido pensá-la como um todo, porque tudo está interligado e deve seguir a mesma linha. O nosso primeiro passo foi abolir herbicidas, pesticidas e fungicidas. Apostámos nos cobertos vegetais (flora espontânea ou plantações que se fazem entre vinhas para melhorar o ecossistema) porque a ideia é exatamente devolver vida à vinha.

Não é por acaso que estamos a trabalhar com uma empresa italiana especialista em poda que se chama Simonit & Sirch, para por um lado reduzirmos as chamadas doenças de lanho e por outro aumentarmos a longevidade das vinhas.

Na tal visão holística, se a vinha é importante, o solo onde ela está implantada, também. Queremos saber o que está presente no solo de Cortes de Cima. Nesse contexto iniciámos uma colaboração com Claude e Lydia Bourguignon que criaram um laboratório de análises microbiológicas dos solos, e que estudam ao pormenor o nosso solo. No fundo, o que nos interessa é criar um ecossistema equilibrado que mantenha a vida na vinha.

Ainda na senda da sustentabilidade, este ano reduzimos drasticamente a rega da vinha, só foi regada uma vez durantes 12 horas, com o objetivo de que ela aprenda a sobreviver sem água, que seja autossuficiente e resiliente. Um dia, a água será ainda mais escassa no Alentejo, sobretudo se o cultivo intensivo e superintensivo permanecer.

Rumar no sentido da sustentabilidade, convertendo toda a vinha para biológico num Alentejo super cultivado, é o meu compromisso e é para ele que vou trabalhar. A produção será menor, mas a qualidade será ainda melhor. Quero fazer vinhos com identidade e qualidade, mas respeitando o equilíbrio do ecossistema. O respeito pela terra e pelo terroir serão sempre uma prioridade. Quero que daqui a uns anos, se tiver filhos, eles se orgulhem do meu trabalho, como eu me orgulho do trabalho dos meus pais”

Anna Jørgensen e a equipa de Cortes de Cima.

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