Ana Fernandes: “O mundo precisa de mais mulheres em lugares de gestão e liderança”

Convicta da importância da formação contínua, Ana Fernandes, executive director da WYperformance, formou-se em Engenharia Eletrotécnica, mas trilhou um percurso que a levou até à Gestão e, mais recentemente, ao Marketing Digital. Em entrevista, a executiva encoraja outras mulheres a lutarem pelos seus sonhos para disputarem os lugares de topo nas hierarquias corporativas.

Ana Fernandes é executive director da WYperformance.

Assumindo-se como uma problem solver por natureza, apesar da inclinação inicial para seguir Belas-Artes, Ana Fernandes acabou por enveredar pela Engenharia Eletrotécnica, “uma opção de carreira que combinava com essa natureza”. Ávida de “bons desafios” e crente de que a “aprendizagem contínua é fundamental”, a executiva completou a formação com um mestrado em Marketing e um MBA, que lhe deram sólidas bases para uma carreira que a conduziu até à Gestão e ao Marketing Digital. Agora na qualidade de executive director da WYPerformance, Ana Fernandes assegura que liderar esta consultora e conduzi-la durante um processo de reestruturação profunda foi “o desafio” da sua carreira profissional.

Quando optou pela licenciatura em Engenharia Eletrotécnica, o que a levou a escolher essa área e que horizonte profissional perspetivava, na altura?

Curiosamente a minha inclinação desde cedo foi para Belas-Artes. A paixão pelo desenho e pela pintura acompanhou-me desde cedo. Lamentavelmente, viver e frequentar o ensino secundário em Seia, uma cidadezinha do interior, não era compatível com esse interesse, já que não existia a área E, opção no secundário que daria acesso a uma carreira nas artes.

Na família, desde cedo, foi-me permitido o contacto com as áreas técnicas. O meu pai era eletrotécnico na Portugal Telecom (atual Altice). Na impossibilidade de seguir Belas-Artes e dado que as minhas notas me permitiam escolher o que quisesse, a Engenharia acabou por ser a opção natural. Não me arrependo da escolha, a Engenharia dá-nos uma capacidade de apreensão de conhecimentos muito valiosa para o futuro, mesmo que até não exerçamos na área que estudámos. Por natureza, sou uma problem solver, adoro um bom desafio, pelo que a engenharia era uma opção de carreira que combinava com essa natureza.

Depois acabou por trilhar um percurso profissional muito ligado às áreas de Gestão, Marketing e Consultoria. Foi um grande salto para terrenos completamente distintos ou são áreas que acabam por estar de algum modo próximas, do seu ponto de vista?

A minha carreira começou na área de novos produtos do departamento de Automação de Transportes da Alcatel Portugal. Como qualquer área nova que está a começar, os recursos são sempre escassos, pelo que tive uma oportunidade única de exercer diferentes funções: desde a consultoria na perspetiva do desenho de uma solução, à elaboração da proposta e discussão da mesma com o cliente, até à gestão do projeto, uma vez adjudicada a proposta. Este conhecimento handson de diferentes áreas foi uma mais-valia em toda a minha vida futura, dando-me as ferramentas necessárias para abraçar as constantes mudanças e desafios que se seguiram.

A Gestão esteve sempre presente. Os projetos que tive a oportunidade de gerir na Alcatel eram projetos de milhões, com muita visibilidade e, alguns até, pioneiros em Portugal. O Marketing e, em particular, o Marketing Digital foi uma paixão tardia. Ao fazer o Curso Geral de Gestão da Nova SBE e mais tarde o Lisbon MBA, a minha perspetiva de mudança de carreira estava muito mais virada para a área financeira. No decurso dessas formações, o Marketing acabou por me entusiasmar muito mais, muito por influência do professor Jorge Velosa, tanto que acabei por fazer a minha tese de mestrado em Marketing.

Se a gestão esteve sempre presente, a mudança para o Marketing Digital foi um grande salto, em termos de aprendizagem e desafio profissional, mas sem dúvida o mais entusiasmante de todos. É extremamente difícil mudar radicalmente de carreira neste país aos 40 anos. São muito poucos os que nos reconhecem valor e nos dão oportunidades de fazer coisas radicalmente diferentes do nosso percurso académico e profissional. Tenho sem dúvida de agradecer ao Pedro Janela por ter acreditado em mim e ter tido esta oportunidade.

Marketing, planeamento estratégico, gestão de projetos, formação, gestão de equipas, vendas e consultoria são algumas das suas áreas core de atuação. Quais aquelas em que mais se realiza profissionalmente?

Todas essas áreas foram essenciais no meu percurso profissional e deram-me uma aprendizagem única. Todas desempenharam (e desempenham) um papel importante na profissional que sou hoje mas evoluir, querer saber mais e encontrar novos desafios faz parte de mim. Hoje sinto-me realizada profissionalmente como diretora da WYperformance.

Ana Fernandes: “A aprendizagem contínua é fundamental”

Entretanto fez um Mestrado em Marketing e um MBA, o The Lisbon MBA International pela Universidade Nova de Lisboa, Universidade Católica e MIT Massachusetts Institute of Technology. Que importância tem para si a aprendizagem contínua e quais as principais mais-valias que estas formações lhe trouxeram?

Todas essas formações foram essenciais pelo conhecimento e pelo networking que possibilitaram. A aprendizagem contínua é fundamental, não só para quem é um teamleader, mas também para quem é um teamplayer. Só me sinto completamente segura para falar de um tema se o domino completamente e considero sempre que sei menos do que deveria saber, pelo que vivo em luta constante comigo mesma por essa necessidade de saber mais e achar que nunca é suficiente. De tempos a tempos sinto falta de voltar à universidade. Um dia destes volto para fazer o doutoramento. É uma ideia que ainda não abandonei. Só preciso de arranjar tempo para isso.

Começou o seu percurso profissional na Alcatel Portugal, de onde saiu para o grupo Thales e, mais tarde, para a Schneider Electric. Que bagagem trouxe da passagem por essas grandes multinacionais?

Todas estas empresas sempre me deram muita autonomia e responsabilidade no desempenho das minhas funções. Em particular a Alcatel foi uma grande escola profissional. Ter passado tantos anos da primeira parte da minha carreira em empresas de base tecnológica ligadas à indústria com uma vertente relacional relevante e de gestão de equipas e de projetos permitiu-me adquirir bases e competências que hoje aplico num setor onde não há assim tantas mulheres engenheiras a exercer lugares de liderança. Hoje concluo que faria bem a cada uma das áreas estagiar na outra por poucos anos.

Essa bagagem foi imprescindível para, em 2015, se lançar num projeto próprio, como cofundadora e sócia-gerente da Black Sheep Consultancy? Que balanço faz dessa experiência enquanto empreendedora?

O desafio foi aliciante, mas de início pareceu um salto para fora de pé, deixar de ser trabalhadora por conta de outrem e arriscar no desenvolvimento de um novo negócio. Mas não me arrependo nem um pouco de o ter feito. O importante é sabermos se o caminho é o certo e antes de criarmos a Black Sheep recusámos algumas parcerias e negócios que, depois de bem estudados os temas, concluímos não serem suficientemente rentáveis. Não é fácil abandonar uma ideia que nos apela à emoção, mas é preciso pensar com a cabeça. Hoje estamos muito contentes com a Black Sheep e com a diversidade de clientes que nos proporcionou. Neste momento o nosso foco é o WYgroup, mais concretamente a WYperformance.

Desde 2016, ingressou no WYgroup, primeiro como consultora externa, depois como head of New Business & Strategy na WYperformance, empresa da qual se tornou executive director no ano passado. Que desafio é este de liderar a WYperformance e que apport trouxe à sua carreira?

Liderar a WYperformance e conduzi-la durante um processo de restruturação profunda, com um elevado turnover de recursos humanos foi, sem dúvida, o desafio da minha carreira profissional. Foi um desafio trabalhado em conjunto com a Daniela Munhoz e o Samuel Fernandes, companheiros inseparáveis neste ano à frente da WYperformance. Juntos repensámos toda a empresa, introduzimos processos diferentes, reformulámos a nossa abordagem aos clientes internacionais, o que nos permitiu praticamente triplicar a faturação da empresa face a 2020. É uma empresa com imenso potencial e estamos crentes que o melhor ainda está para vir.

Que mensagem deixaria a jovens executivas que ambicionem alcançar posições de liderança?

Lutem pelo que querem. Não desistam! Por mais que lhes digam que já perderam o comboio. Apanhem-no em andamento ou na estação seguinte. Estudem, documentem-se e pensem pela vossa cabeça, o mundo precisa de mais mulheres e mulheres competentes em lugares de gestão e liderança.

 

Leia outras entrevistas com executivas de topo aqui.

Parceiros Premium
Parceiros