Designer de jóias, Ana Calheiros, tinha um estabelecimento no Chiado que teve de encerrar as suas portas por imposição das medidas governamentais para evitar a propagação da Covid-19. Mas depressa descobriu uma nova atividade que a faz feliz.
Como e quando decidiu tornar-se joalheira?
Sempre vivi no mundo das jóias. A minha Mãe, que também é ourives, foi a minha grande influência. Frequentei um curso de joalharia na escola Contacto Directo e aprendi muito com a minha Mãe.
Fiz várias apresentações de colecções em algumas Embaixadas de Portugal no estrangeiro. Fiz uma colecção de jóias para a Assembleia da República. E, aquando da Cimeira da Nato, todas as Primeiras Damas levaram um saco com uma jóia Ana Calheiros consigo.
Quando e como surgiu a loja no Chiado?
A loja do Chiado abriu há dois anos, numa altura em que o turismo estava no auge. Abri na Rua da Misericórdia, n.º 83, e vendo quase exclusivamente para turistas que apreciem o design e peças únicas. Trabalho na loja juntamente com uma amiga, que me ajuda de vez em quando. Na loja apenas vendo peças feitas, desenhadas ou escolhidas por mim.
Como é que esta crise está a impactar esse negócio?
A crise começou há cerca 8 meses, não pela quantidade de turistas, mas pela qualidade desses mesmos turistas. Atraímos um tipo de turistas que não nos interessa neste momento. É um turismo low cost, que apenas gasta dinheiro em comida.
Obviamente que com a chegada da pandemia veio também a crise arrasadora que nos fez fechar completamente o negócio. Neste momento a loja está encerrada e prevejo que esteja fechada durante o mês todo de abril e maio.
De repente, passei de 12h de descanso para 12h de trabalho intensivo, numa área que não é a minha, de que nada sabia.
Em que momento decidiu lançar o negócio de distribuição de pão porta a porta e porquê?
Assim que fechei a loja e entrei de quarentena, comecei a ter crises de ansiedade, tal como a maioria dos portugueses por ter de estar fechada. Durante uma semana ainda acabei umas encomendas de jóias, mas depois fiquei sem nada para fazer. Em conversas com algumas clientes de mais idade, comecei a perceber que estavam isoladas e com dificuldades em comprar, sobretudo, pão fresco. Então fez-se um “clic” e pensei: ‘porque não faço o pão e não distribuo a quem mais precisa?’ Em dois dias fiz a página do instagram @pao_fresco_a_porta e a página do facebook Pão fresco à porta e pedi aos amigos para partilharem. Compro o pão e distribuo por Lisboa inteira. De repente, passei de 12h de descanso para 12h de trabalho intensivo, numa área que não é a minha, de que nada sabia. Tive de ser autodidata e rápida a actuar. E cá estou eu a distribuir o @pao_fresco_a_porta dos lisboetas. Graças a Deus ,está a ter um sucesso que confesso não estava à espera.
Qual a maior dificuldade com que se deparou?
A maior dificuldade é arranjar pessoas para a distribuição. Tenho uma amiga que me ajuda alguns dias, mas 80% da distribuição é feita por mim. Nunca fui uma pessoa de receios e, sim, de arregaçar as mangas e fazer o que sinto e acho que tem de ser feito.
Não sou preconceituosa relativamente às profissões. Acho é que temos de ser felizes a fazer seja o que for na vida.
Como é o seu dia-a-dia, repartida entre dois projectos?
Neste momento o meu dia-a-dia resume-se a acordar bem cedo para receber o pão que me entregam em casa. Distribuo por clientes e saio para a distribuição. Quando chego a casa, verifico os pedidos para o dia seguinte e planeio as entregas. Depois, acaba o trabalho e dedico o resto do tempo ao design das jóias, enquanto ouço a minha música.
Quais os seus sonhos/planos para o futuro quanto a estes dois ou outros negócios?
Como não tenho filhos não planeio nada na minha vida. Faço tudo por instinto e posso dizer que me posso dar ao luxo de fazer apenas o que me faz feliz. Só faço o que me preenche e o me faz feliz. Amanhã posso deixar estes dois negócios e descobrir que sou feliz a ordenhar cabras e a fazer queijo ou até a conduzir um uber. Gostava ainda de ter um boutique hotel numa zona sossegada no sul do país e para isso terei de fazer formação… Desde que me faça feliz farei qualquer coisa na vida. Não sou preconceituosa relativamente às profissões. Acho é que temos de ser felizes a fazer seja o que for na vida.