O ciclo de palestras de empreendedorismo feminino, WE Talks by WomenWinWin, trouxe ao auditório da Abreu Advogados, em Lisboa, mais dois casos de sucesso: Cristina Fonseca, co-fundadora da TalkDesk e partner da Indico Capital Venture, e Helena Amaral Neto, co-fundadora da Tela Bags e, mais recentemente, partner da Luxulting.
Cristina Fonseca partilhou a sua história de empreendedorismo, iniciada com a criação da TalkDesk, a empresa que fundou, em 2011, com o colega de curso, Tiago Paiva, e que hoje conta com mais de mil clientes em todo o mundo, tendo valido a ambos lugar na lista ‘30 Under 30 da Forbes’, em 2016. O conceito de um call center sedeado na cloud, onde todo o histórico dos clientes estivesse sempre à disposição, de forma democratizada e barata, garantiu-lhes o primeiro lugar num concurso norte-americano de empreendedorismo e o convite para participarem de um programa de aceleração de start-ups, bem como 24 milhões de dólares angariados em investimento.
Mas esta era a sua 4ª ideia de negócio: em 2010, tinham desenvolvido três outras que não vingaram. “O que nos distingue é o facto de termos sido tão rápidos a ‘matar’ as ideias que não funcionavam e a pensar em novas. Acho que as pessoas se comprometem demasiado cedo com uma ideia que, muitas vezes, não foi sequer testada. Mas como há um compromisso público de se estar a trabalhar naquele projeto com todas as forças, mais depressa se entra em negação do que se corrige a trajetória.”
Hoje, Cristina é partner no fundo de investimento Indico Capital Ventures, que criou com dois sócios depois de ter deixado a gestão da TalkDesk. “Em Portugal há talento técnico, pessoas ambiciosas e com capacidade de ter e executar boas ideias, escaláveis no mercado global. Mas faltam-nos investidores profissionais, que acompanhem a start-up desde que nasce até conseguir competir na primeira liga do campeonato de empreendedorismo. É isso que estou a fazer agora e dá-me imenso gozo.”
Sobre a discrepância no financiamento de start-ups femininas relativamente às suas congéneres masculinas, Cristina Fonseca acredita que problema não tem só a ver com a falta mulheres nas empresas de venture capital. “Muitas vezes, as mulheres são tão menos ambiciosas e tão mais realistas que os homens — e isso pode limitá-las nas rondas de investimento. Enquanto elas, tipicamente, me falam sobre o que já existe no seu negócio, os homens conseguem vender a ideia do que ainda vai existir. Eles sonham mais alto. As grandes firmas de venture capital estão hoje a tentar encontrar partners femininas, num esforço de garantir que isto não acontece. Mas esta questão tem também a ver com o facto de existirem muito menos mulheres em tecnologia.”
Empreendedoras S.U.P.E.R.
Para a empresária e professora universitária, Helena Amaral Neto, as caraterísticas que melhor definem o espírito empreendedor podem resumir-se num acrónimo simples:
S de Sonho: “A vontade de criar algo novo já tem de existir”.
U de Utopia: “É preciso acreditar no que estamos a fazer, que faz sentido e que estamos a dar um contributo.”
P de Plano e de Pessoas: “Não é do plano de negócios que falo, mas de onde queremos chegar, definir o norte. E tudo tem de ser adaptável, porque as mudanças de mercado são muito rápidas. Esse é um fator importantíssimo.” Para a empreendedora, a escolha das pessoas certas para a equipa, motivadas a partilharem novas ideias, é outro elemento essencial.
E de Energia: “É preciso aprender a geri-la. Há um preço a pagar pelo excesso de entrega, que tem de ser levado em conta. Quando criei a marca Tela Bags, tinha filhos muito pequenos e houve em uma altura em que os acompanhei menos. Cheguei muito perto do burn out´.
R de Resistência e de Risco: “Churchill dizia que o sucesso é ir de falha em falha, sem perder o entusiasmo. Isso reflete a grande lição do empreendedorismo: falhar e aprender com todos os erros.” Saber lidar com o risco também é outra constante na vida do empreendedor; não apenas o financeiro, mas também o risco da entrega pessoal e de assumir a responsabilidade pelas vidas das pessoas que contrata, lembra.
Helena Amaral Neto começou a carreira no mundo coorporativo da alta finança, mas depressa percebeu que “gostava de criar projetos de raiz e fazê-los atingir a velocidade de cruzeiro”. A estreia do programa Erasmus levou-a até Inglaterra, onde terminou o curso de Economia iniciado na Universidade Católica, e fez um mestrado em Finanças na City University of London. Trabalhou em mercado de capitais no Chase Manhattan Bank e regressou a Portugal em 1999 para fazer parte da equipa que criou o Banco de Investimento Global, onde desenvolveu a área de Clientes Institucionais.
A sua veia empreendedora viria a manifestar-se pouco depois, com a ideia para um projeto de ecodesign que reaproveitava materiais de publicidade obsoletos, como outdoors, transformando-os em malas e outros acessórios produzidos para o mercado corporate. Mas o interesse crescente que o setor do Retalho começou a demonstrar nas peças levou à readaptação do conceito inicial do negócio, resultando no nascimento da marca Tela Bags.
Hoje, Helena é professora no ISEG, onde ensina Gestão Financeira e Gestão de Risco e coordena cursos executivos na área do luxo. O conhecimento sobre este tipo de mercado levou-a ainda a criar a consultora Luxulting, em 2017. “Há hoje uma cultura de empreendedorismo muitíssimo mais desenvolvida, sobretudo nas gerações mais novas, que é muito positiva. Estes eventos são importantes para partilhar experiências, sobretudo aquilo que as oradoras aprenderam com os seus erros, para que se possa crescer em conjunto”, observou, já no fim da sessão.