Acredito que podemos dizer tudo o que queremos a qualquer pessoa. Só depende da maneira como o fazemos. Se é do género, “eu sou muito frontal, digo tudo o que penso”, é provável que tenha experimentado alguns dissabores no trabalho e até que tenha dito o que não queria dizer. Por outro lado, se pratica, “eu respiro fundo e conto até dez antes de dizer o que quero”, o seu discurso sairá mais suave, mas pode não ser percebido.
Entre estas duas formas de comunicar aparece a assertividade, com frequência confundida com agressividade. Muitas vezes o medo que temos de dizer o que queremos, e que nos leva a ficar calados, pode acontecer porque conhecemos a nossa dificuldade em controlar as emoções. É com uma atitude assertiva que pode dizer tudo o que quer, sendo firme e suave em simultâneo e, sobretudo, garantindo que a sua linguagem verbal é coerente com a não verbal. Quer dizer que, por exemplo, se quer convencer a sua chefia de que merece a promoção vai ter que olhá-la nos olhos. Também não vai dizer que está de acordo com o que um colega lhe diz a encolher os ombros.
Mas deixemos o como e vamos ao quando. Quais são os momentos-chave em que deve dizer aquilo que quer, sob pena de ser difícil reverter a situação?
1.Negociar a remuneração
Antes de mais: tem uma boa relação com o dinheiro? Se sim, ótimo. Mas se não está à vontade para falar sobre ele e acha que é feio fazê-lo, é natural que não diga o que quer e aceite contra vontade o que lhe oferecem.
Para sentir-se mais confortável num momento tão importante como este, ajudará conhecer o seu valor no mercado, que não é ditado pelas suas despesas mensais, mas, sim, pelo setor onde trabalha, pela dimensão da empresa e pela função que tem. Se trabalhar para uma grande empresa tecnológica e se a sua função for estratégica ou crítica para o negócio, o seu valor é alto e é provável que seja o mercado que anda a olhar para si. No extremo oposto, se trabalha para uma média empresa do setor da construção e a sua função é de suporte ao negócio, o seu valor decresce consideravelmente. Depois desta avaliação, está em condições de dizer o que quer com firmeza e sem receio.
2.Candidatar-se a uma promoção
Quer evoluir e existe a possibilidade de subir mais um degrau? Antes de dizer o que quer, há trabalho de casa para fazer: Porque pensa ser a pessoa certa para lhe ser dada essa oportunidade? Como vai acrescentar valor? Em que é que se diferencia de outras pessoas que também estejam na corrida? Se tem resposta para estas questões, pode avançar com um sorriso.
3.Manifestar insatisfação com o que faz
Acredita que as suas competências são desvalorizadas ou que as perspetivas de evolução são uma miragem? Se não manifestar a sua insatisfação, a sua chefia, embora devesse andar atenta, pode não adivinhar. Se tem a certeza de que detém competências necessárias e críticas para a organização em que trabalha, antes de dizer, mostre aquilo de que é capaz.
4.Aceitar um novo desafio
De tal maneira nos habituámos, por força de um mundo que nos surpreende constantemente, a sermos desafiados, que não concebemos que haja pessoas que não gostam de desafios e que queiram permanecer no que se convencionou chamar zona de conforto. Mas elas existem. E com legitimidade. Se pertence a esse grupo, saiba dizer não quando lhe colocam um desafio e tenha consciência de que aquilo que quer pode não estar alinhado com o que a empresa precisa. Se, ao contrário, procura os desafios, pode ter muitas perguntas a fazer: O que é esperado de mim? Que meios vou ter para responder? A quem posso pedir ajuda quando precisar? Pergunte e diga o que quer antes de o “jogo” começar: não se mudam as regras a meio.
5.Aceitar um cargo de liderança
Quando aceita uma posição de liderança na empresa onde está ou vai para uma nova organização, terá com certeza muitas perguntas que quer colocar. Analise o projeto e as suas variáveis e prepare-se para dizer aquilo de que precisa para desempenhar o cargo.
6.Intervir quando assiste a uma conferência
Quantas vezes já lhe aconteceu estar numa conferência e ter uma pergunta que gostaria de colocar? No entanto, não o fez por pensar que não vale a pena ou porque “a pergunta é estúpida’”, quando, logo de seguida, alguém faz a pergunta que tinha em mente e percebe que afinal até tinha pertinência. O que não é pertinente é fazer um discurso para mostrar que sabe tanto ou mais do que o conferencista. Uma pergunta curta e estruturada é sempre bem acolhida.
7.Demonstrar iniciativa
Todos os pontos anteriores se referem a momentos de demonstração de iniciativa. Mesmo aqueles que lhe são propostos, como a resposta a um desafio ou a aceitação de um cargo de liderança. Diga o que quer através de perguntas. Elas são os nossos melhores aliados.
Texto publicado no livro Como Chegar a Líder – 600 Conselhos de Carreira (Vindos de Quem Sabe), que conta com textos de outros 61 autores e foi coordenado por Isabel Canha e Maria Serina. Saiba mais aqui.