Licenciou-se em Comunicação Social no ISCSP, mas cedo se deixou seduzir pela publicidade. José Alfredo Neto começou a sua carreira como copywriter na Abrinício e depois trabalhou quase 23 anos na Havas Worldwide, onde foi diretor criativo. Uma boa parte da vida ligada a uma arte onde as palavras estão sempre em primeiro plano. Por isso, quem o conhece não estranha o livro que acaba de lançar: Dicionário de Palavras Supimpas. Ciente da importância das palavras para expressar ideias e conceitos, José Alfredo Neto fez uma compilação de vocábulos “rigorosamente seleccionados e escandalosamente bem-dispostos, que vão permitir fazer boa figura em qualquer ocasião”. Um dicionário indispensável para quem gosta de falar bem em bom português.
“Porque o texto me é gentilmente pedido pela Executiva, e não por um jornal desportivo, por exemplo, vou falar, muito mais resumida e brevemente do que ela mereceria, da mulher mais incrível que conheci em vinte e três anos de carreira numa agência de publicidade (e só estou a recorrer ao pretérito porque eu já saí dessa empresa há algum tempo e porque ela acaba de se reformar, não porque tenha acontecido nada de pior que isso). Entre colegas, clientes e fornecedoras, terei trabalhado seguramente com umas largas centenas de mulheres, criativas e executivas, maquetistas, designers e produtoras, contabilistas e recepcionistas, directoras de marketing e respectivas assessoras, secretárias, fotógrafas, realizadoras, maquilhadoras, cantoras, locutoras, actrizes, modelos e o diabo a quatro. Algumas delas pessoas interessantíssimas, de quem fiquei amigo e que muito admiro. Mas nenhuma como a Inácia.
Para quem não a conhece, talvez o melhor seja eu dizer o seguinte: a Inácia é uma mulher de tal forma especial que nenhuma das outras todas, nenhuma de entre as tais largas centenas, sentirá, se ler este texto, um mínimo de ciúme, ou de inveja, ou de seja lá o que for que as mulheres tendem a sentir se alguém se põe a elogiar outra mulher qualquer. Porque, e note-se que não estou a exagerar, qualquer uma delas a quem fosse pedido o que me pediram a mim diria, muito provavelmente, o mesmo que eu: mulher da minha vida? A Inácia, com certeza. A minha Inácia. A nossa Inácia. A nossa Paixão. Sim, porque a Inácia, não tendo nascido com o apelido certo, casou-se com um homem que lho deu. Graças ao seu marido, ela é, também legalmente, a Inácia Paixão.
A Inácia era, quando entrei na RSCG, a “senhora da limpeza e dos cafés”, se bem que, mesmo nessa altura, a parte da limpeza propriamente dita já estivesse em regime de outsourcing. Com o passar do tempo, passou a ocupar-se também do economato. E dos primeiros socorros. E da preparação das reuniões. E do estacionário. E do catering. E, em paralelo, da boa disposição, da motivação e da saúde mental de mais de cem pessoas.
Como disse ali um pouco mais acima, a Inácia acaba de se reformar. Eu, se fosse accionista da empresa, coisa que só fui em dose verdadeiramente homeopática e que já não sou há muito tempo, preferiria que me tivesse saído o maior cliente pela porta fora, ou qualquer outra desgraça do género. Porque nestes anos todos de publicidade, que entretanto já são quase trinta, devo ter aprendido outras coisas que de momento não me ocorrem, mas esta é certa: se alguém lhe disser que não há pessoas insubstituíveis, é porque essa pessoa não conhece a Inácia Paixão.”