“Efeito Trump”: Cada vez mais americanas querem entrar na política

As declarações e medidas tomadas por Donald Trump fizeram disparar o número de mulheres que querem ter uma voz mais ativa na sociedade. O efeito Trump funcionou ao contrário.

Donald Trump está a despertar as mulheres para a política.

Está a aumentar o número de mulheres norte-americanas que demonstram intenção de se candidatarem a cargos oficiais ou políticos. Esta espécie de “efeito Trump” já foi reportado por vários media como a Fortune, o jornal britânico The Guardian ou a edição norte-americana da revista Marie Claire, citando dados oficiais de organizações não partidárias que parecem confirmar a tendência. Trata-se de uma resposta à vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais de novembro passado, dizem os responsáveis, uma reação a declarações polémicas como a construção de um muro na fronteira entre os Estados Unidos e o México, a proibição de entrada nos Estados Unidos a cidadãos de países de maioria muçulmana e aos comentários considerados ofensivos para as mulheres, que vieram a lume ainda durante a campanha.

As mulheres estão a aderir a organizações da sociedade civil sem necessidade de acções de sensibilização.

No início de Fevereiro, o comité de ação política Emily’s List — que apoia mulheres democratas ‘pro escolha’ (na questão do aborto) — anunciou que, desde 8 de novembro mais 4 mil mulheres contactaram a organização a comunicarem a sua intenção para concorrerem a cargos oficiais ou políticos, segundo o site da Fortune. Receberam quatro vezes mais contactos neste sentido, desde então, do que o total dos 22 meses anteriores às eleições, números que a organização classifica como “sem precedentes nos seus 32 anos de história”. Uma das responsáveis adianta mesmo que a grande mudança é o facto de a iniciativa partir das próprias cidadãs e não ser o resultado de ações de sensibilização ou recrutamento no terreno.

A afluência foi tal que o site da Emily’s List foi restruturado para incluir uma entrada direta e mais visível para as mulheres que querem candidatar-se e outra para as demais apoiarem uma candidata da sua escolha. A organização diz ainda à Fortune que teve que duplicar o número de colaboradores.

A organização não partidária She Should Run, sediada em Washington DC, que presta apoio a mulheres que querem entrar na política, também relata à edição americana da Marie Claire um aumento significativo da procura. Desde o dia das eleições foram contactadas por mais de 4500 mulheres com intenção de concorrerem a cargos políticos, quando a sua média mensal é de 100 contactos.

As mulheres perceberam que não podem continuar a ser meras espectadoras. Querem ter uma voz ativa na sociedade.

“A maior parte das mulheres diz-nos que acordaram no dia 9 de novembro e perceberam que não podem continuar a ser meras espectadoras ou a assinar petições online, querem saber como podem candidatar-se a cargos oficiais, seja no conselho escolar, na câmara municipal, para cargos de representação estatal ou nacional”, disse ao The Guardian, Erin Vilardi, diretora executiva da organização não partidária norte-americana VoteRunLead, que prepara mulheres para a liderança política. Nas 48 horas seguintes à eleição receberam 1100 inscrições para a sua próxima conferência web e foi preciso fechar inscrições e abrir uma lista de espera. A principal razão para o grande afluxo será “uma rejeição de Trump”, afirma ainda Vilardi.

Também a organização Emerge America, um grupo progressista dedicado ao coaching político, refere ao The Guardian que o número de inscritas nos seus variados cursos aumentou muito desde a eleição — 800 no total. Um dos seus cursos de coaching tinha apenas 35 inscrições, seis semanas antes das presidenciais, e 230 seis semanas depois.

Mas até quem não quer entrar na arena política está a agir de outras formas. As doações a instituições como o Planned Parenthood, (PP) que atua na área dos direitos reprodutivos e contraceção, ou a American Civil Liberties Union (ACLU) tiveram um aumento significativo, diz Marie Claire americana. Cerca de 80 mil pessoas quiseram contribuir para a PP nos dias que se seguiram à eleição, antecipando a intenção de Trump cortar uma boa parte do financiamento concedido àquela organização, como forma de limitar os seus programas de interrupção voluntária de gravidez. Já a ACLU assistiu a um aumento de 7000% na semana seguinte à eleição.

Parceiros Premium
Parceiros